Conheci um canibal sociável no Norte de Minas Gerais…

Por motivos óbvios, pois hoje ele já se encontra “reintegrado à sociedade”, nos anos 70 conheci um jovem educadíssimo durante campanha política municipal em Montes Claros-MG.

Aparentemente concentrado em atender eleitores e apoiadores do candidato para o qual trabalhava, o rapaz informava tudo que queríamos saber de forma pausada, olhando-nos firmemete qualquer desconfiança sobre seu comportamento anterior, alardeado em várias manchetes policiais. Na verdade, esse simpático jovem – que aparentava rosto variolado e pálido -, era um canibal.

O “era”, no caso, fica por conta da suposição dele ter deixado essa prática hedionda, transformando-se numa pessoa de modos refinados, pronta a atender todos de forma eficiente e agradável.

Conhecedor do seu passado, fiquei observando-o atentamente, e foi impossível não imaginar que aquele rapaz tão gentil pudesse ter devorado miolos de defuntos recém baixados à cova.

Nem tenho ideia de quantos cérebros inanimados ele devorou por anos seguidos…

Tudo aconteceu, pelo que fiquei sabendo na época, numa cidadezinha incrustrada no sertão norte-mineiro, onde esse então canibal residiu durante a adolescência.

O fato é que várias sepulturas apareceram violadas horas depois do enterro. Ao lado da cova, a polícia sempre encontrava corpos sem parte do crânio, despedaçados por golpes de martelo ou pedregulho. E o mais aterrador: com buracos vazios nos cérebros.

Deduziu-se, pela ação de violação das sepulturas e retirada dos corpos, somando-se ao esmagamento dos cérebros, que aquilo jamais poderia ser obra de animais selvagens.

A principal intriga passou a residir na ausência dos miolos do “novo defunto”, ou defunta. Quem estaria retirando-os, e para quê?

Logicamente, a princípio não se atentou que a parte interna do cérebro dos falecidos estivesse sendo degustada por um maníaco por carne humana.

O apetite do sujeito podia ser conferido a um simples olhar: não sobrara nada dentro do cérebro, limpo que nem um coco raspado por alguém…

A partir daí, montou-se uma vigilância ferrenha para que esse mistério fosse desvendado, e assim todo velório na pequena comunidade rural passou a ser rigidamente acompanhado por agentes da polícia.

Nos primeiros defuntos novos na cidade, não ocorreu mais nenhuma violação. A polícia suspeitou que ele [o canibal] estivesse de alerta e não quis se arriscar.

Inteligentemente, foi combinado com o editor do único jornalzinho local para publicar nota dizendo que o misterioso profanador de sepulturas tinha se mudado para outro estado, onde, inclusive, já estaria aprontando violações em jazigos.

Eis que faleceu dona Conceição, sitiante popular na região. Disfarçados, agentes da polícia ficaram de olho, e tornou-se óbvio o interesse de um adolescente pela defunta. O rapazola não parava de circular ao redor do caixão, olhando extasiado para a morta.

Lá pelas 17h, o cortejo funerário partiu em direção ao cemitério, onde dona Conceição foi enterrada numa sepultura comum. Às 18h20 não havia mais ninguém por lá, à exceção do coveiro. Um trio de policiais armou campana numa mata próxima.

O coveiro saiu também em seguida, fechando o portão do cemitério com um imenso cadeado. Desceu tilintando o molho de chaves pela rampa de cascalho de acesso à morada dos pés juntos, costume de anos.

Os policiais permaneceram invisíveis na mata, mas de olho na amarelada luz de poste próximo à entrada do cemitério. Foi quando viram o suspeito do velório saltar o muro, com mochila nas costas.

Eles deram um tempo para que o rapaz fosse flagrado no crime do qual suspeitavam que fosse o autor. Mesmo lá de fora, escutaram barulho de algo cavando a terra. “Está reabrindo a cova”, cochicharam.

Agilmente, dois deles subiram no muro pela parte traseira do cemitério, mais escura, e assim adentraram sem que fossem notados pelo doente mental.

Com destreza, o adolescente terminara sua escavação na terra ainda fofa, e agora puxava o corpo de dona Conceição para fora. E quando hasteou uma machadinha para arrebentar seu cérebro, recebeu voz de prisão.

– Pare! Você está preso por violar sepulturas!

O rapaz ensaiou fuga, mas terminou sendo rendido pelo terceiro policial que ficara na frente. Os outros dois o dominaram, algemando-o.

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Na decisão judicial, ficou comprovado que o violador de sepulturas sofria de sérios distúrbios mentais. Portanto, ao invés de ir para a cadeia, determinou-se pela sua internação num hospital psiquiátrico de Montes Claros, atrás da estação ferroviária. Ali permaneceu por bom período…

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Convenhamos que restou certa desconfiança: estaria ele regenerado? Não sente mais atração por cadáveres?

Depois disso, conheci um coveiro que me confessou ser necrófilo. Trata-se de uma anomalia mental que incita pessoas aparentemente saudáveis a fazer sexo com defuntos. Difícil imaginar que algo mais nos assombre nesse mundo…

 

 

 

 

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