“Vivemos num deserto de Saara!”, desabafa morador de Várzea Grande

Morador no Jardim Eldorado, em Várzea Grande-MT, Helton M. Pessoa é motorista profissional. Mas seu principal esforço não se restringe à direção segura, condição em que é experiente mestre, mas para suprir seu lar de água potável. "Essa missão é quase impossível em VG. "Esse tesouro [água] anda escondido por aqui há décadas...", ironiza

Após longas horas de estrada, todo viajante sonha com um bom banho. Na sequência, também prospecta imergir em sono plácido.

Especialistas em psicologia dizem que há momentos em que o corpo humano extravasa enérgicos bastas.

Há motoristas que, cansados, disseram ter visto até corujas gigantescas sambando diante de si; nada mais do que uma cena fantasiosa criada pelo cérebro cansado…

É quando o consciente humano hiberna num estado letárgico, e o condutor passa a sonhar de olhos abertos.

“O cérebro não desiste: sempre cria ilusões fantasiosas, geralmente impactantes, para despertar quem se desligou da realidade”, explicam.

Esse preâmbulo acima é meramente ilustrativo, apenas para destacar que esse NÃO é o caso do atento motorista Helton M. Pessoa.

Isso porque, por décadas, esse experiente condutor vem conduzindo caminhões com maestria profissional pelas estradas não tão confiáveis de MT, e também em lugares inóspitos, à parte do território mato-grossense.

Seu contínuo sonho ao volante, portanto, não é nada utópico, ou seja: Helton nunca dorme ao dirigir, focado que é em segurança absoluta.

– E qual é então seu sonho? – indagariam.

Apenas ter água em casa; dissipar esse fantasma caótico de seca intermitente vigente nas torneiras de Várzea Grande; pesadelo a cada abertura.

É um filme repetitivo, nada emblemático, que VG tem apresentado solenemente aos seus habitantes por tempos duradouros.

Helton diz nem ter adjetivos publicáveis para definir essa situação.

“Ao volante, não vejo corujas sambistas diante de mim, tampouco qualquer fantasma [rindo…]. Só sonho mesmo é em chegar em casa e ter água abundante para um banho delicioso”.

Realidade contrastante

Por horas, focado em encostar o bólido tremulante na porta da residência do Jardim Eldorado, em Várzea Grande-MT, Helton suspira lânguido, ansioso pela ducha merecida de água fria. Nunca podemos esquecer que MT é quente. No foco, o horizonte caseiro…

A desagradável surpresa [aguardada] geralmente acontece horas após, quando o ronco sibilante do motor a diesel suspira chiado de descanso. Helton finalmente está em casa!

Sorridente, apesar do sorriso cansado, ele desce da boleia do caminhão para abraçar seus pequenos e a esposa Daiane. “Cheguei, turma!”, grita feliz.

Daiane também o abraça, mas quase cochicha no ouvido do marido:]

“Nem pense em banho agora; sem água. Novamente!”

Helton havia deixado estoque d’água nas caixas caseiras, providência exaurida durante os longos dias de percurso estradeiro.

Não era a primeira vez que isso acontecia, sabia, e nem bem entrou em casa, já saiu com as chaves da caminhonete para buscar água. Perdeu a conta de quantas viagens pequenas realizou nos últimos anos, somando-se a despesas crescentes.

“Não é simplesmente ir “buscar água”: significa COMPRAR. Ou compra ou você fica sem água potável. Quem tem criança, não pensa duas vezes”, explica.

Novamente ao volante, minutos depois de aportar do caminhão, Helton tem consciência de que sua sonhada ducha se desvaneceu feito uma miragem desértica.

 

“Nos últimos meses, já gastei mais de R$ 900 reais comprando água. Se não dispusesse de depósito extra para armazenar água enquanto viajo, minha família passaria sede”.

De quem é a culpa, afinal?

Helton declara estranhar que Várzea Grande tenha problemas ‘tradicionais’ de abastecimento, apesar de ser também margeada pelo Rio Cuiabá, a exemplo da capital mato-grossense e outros municípios ribeirinhos.

“É inadmissível que isso continue a acontecer na segunda maior cidade de Mato Grosso. Cuiabá, apesar de ser a capital e bem maior, é abastecida regularmente. A imprensa tem noticiado corrupção geral; virou caso de polícia”.

Ele também aponta o descaso da Vigilância Sanitária em relação a uma reciclagem que opera há tempos bem ao lado de sua residência.

Conforme Helton afirma no vídeo acima, o nome correto dessa reciclagem deveria ser “lixão”, em decorrência do forte odor fétido gerado por matéria orgânica em decomposição.

“E a saúde dos moradores, ninguém se importa? Dizem ser reciclagem, mas lá [apontando o terreno da empresa] já foi encontrado muito lixo hospitalar. Entre os dejetos, animais peçonhentos, escorpiões, cobras, aranhas, etc. Carniça insuportável!”

Da Redação

 

 

 

 

 

 

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