Catadoras de Mato Grosso falam da importância de participar do Seminário Nacional Catadoras na Resistência
Concorrido evento teve lugar em Pontal do Paraná- PR. O evento terminou com palestra das representantes do Ministério do Trabalho, Emprego, Ministério da Educação, Ministério das Mulheres , Ministério do Desenvolvimento Social e Ministério dos Direitos Humanos.
Organizado pelo MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis), o seminário ocorreu entre os dias 25 e 27 de outubro de 2023. No último dia, as catadores tiveram programação diferenciada, realizada pelos representantes do Sest Senac, Lucas Viana, Loreta Ozelin e Aurilene Zen, técnicos de enfermagem, e pela representante comercial do Senac, Thatieli Guimarães.
O “Atendimento outubro Rosa” dispôs de tenda de orientação ao auto exame de mama, além de teste de glicemia, aferição de pressão arterial e orientação de atividade física com o professor João Pedro Olandra, com apoio de16 alunos do curso técnico do Senac.
Foi realizado atendimento a cerca de 150 catadoras, entre as quais estavam as oito representantes de Mato Grosso, Anelita Pereira Queiroz Silva, Rosana Pereira dos Santos Simplício, Kelen Aparecida Cunha Galvão, e as catadoras representantes do Comitê dos Catadores do Estado de Mato Grosso, Juliane Cristine Sanches, de Primavera do Leste, Flor de Liz Augusto, de Nobres, e Raimunda, de Cuiabá.
Para a catadora Anelita Pereira Queiroz Silva, de Barão de Melgaço, esse evento proporcionou às catadoras o empoderamento feminino e a inclusão, predominando sensação de pertencimento e merecimento. Para ela, é visível a evolução das catadoras que participam, há algum tempo, de eventos do MNCR e outros similares.
“Ganhamos com a troca de orientações e experiência, fortalecendo as bases do conhecimento de atuação profissional. Isso, sem dúvida, também fortalece o vínculo das catadoras e do MNCR. Estamos unidas para vencer as dificuldades encontrada pela categoria”.
Paralelamente aos momentos culturais facultados aos participantes, foi oferecido ainda um jantar tropical com pratos típicos da região marítima. O mar, aliás, foi outro ponto de deleite de muitas catadoras, que sonhavam em conhecer as águas azuis salgadas.
De acordo com a presidente da Araguaia Recicla, Kátia Nabiane da Silva Lima, de Alto Araguaia-MT, ser catadora é um desafio constante, pois não tem interrupção, nenhuma trégua. É essa visibilidade idealista que motiva as profissionais a lutarem contra todos os obstáculos.
“Deixamos o Pontal do Paraná-PR com o sentimento de dever cumprido, de tarefa finalizada com projeções futuras fantásticas. Prospectou-se muitos ganhos para a profissão de catadora durante esses dias do seminário, enriquecido por discussões entre várias regiões do País e a clareza facultada pelas palestrantes acerca do melhor método de trabalho em voga no cenário nacional. Algumas nem tinham ideia de determinados aspectos relacionados à profissão de catadora”.
Kátia também sublinhou a contribuição importante das autoridades que prestigiaram o seminário, enriquecendo-o sobremaneira. A maioria enfatizou que a dignidade humana é fator imprescindível para maior aporte de inclusão social.
As catadoras que representaram MT, por meio dos comitês regionais, tiveram oportunidade de expor demandas cruciais que enfrentam nos respectivos municípios. O entendimento geral é de que é preciso avançar mais e mais, a fim de que as catadoras tenham sublime posição de Justiça no cenário profissional brasileiro.
KÁTIA NABIANE: ‘QUANDO CRIANÇA, SONHAVA EM FAZER DO LIXO UM PARAÍSO DE PROSPERIDADE PARA QUEM PENSA ESTAR PERDIDO E SEM FUTURO. ISSO VEM SE TORNANDO UMA REALIDADE FELIZ, DIA A DIA…”
Líder respeitada do movimento das catadoras em MT, a presidente da Araguaia Recicla, Kátia Nabiane, disse que há muito a ser feito ainda. E destacou a perseverança das catadoras brasileiras.
“Nós só podemos aplaudir a potencialidade de sucesso desse seminário, pois veio enriquecer nosso conhecimento em relação à atividade que exercemos, dignamente sustentando nossas famílias. Foram dias de aprendizado profícuo, sendo abordadas questões inerentes ao trabalho das catadoras, reflexos sociais, etc. Algumas questões detêm polêmica de entendimento complexo, a exemplo da atuação das catadoras com o meio ambiente e sua contribuição na economia nacional, em vertentes distintas. Retornamos às nossas origens inegavelmente esperançosas de dias melhores num amanhã breve”.
A líder das catadoras voltou a enfatizar que as palestras e oficinas ministradas por representantes de ministérios públicos, das alas estadual e federal, trouxeram esperança geral de que novos horizontes irão abrilhantar a profissão das catadoras.
“É emocionante dizer que nos sentimos prestigiadas de maneira inédita. Porque, não é sempre que nossa humilde categoria consegue convergir a presença de autoridades que estendem apoio declarado aos nossos propósitos de trabalho e de contribuição social. Cada estado enfrenta demanda peculiar, e há outros que têm problemas homogêneos, passíveis de solução se mantermos uma união de liderança motivadora. É um dar as mãos em sintonia harmônica”.
‘TAMBÉM SOMOS CONTRA O TRABALHO DE CRIANÇAS NOS LIXÕES DA VIDA…”
Kátia elogiou a pauta de José Fernando Silva, coordenador-geral de Enfrentamento ao Trabalho Infantil [Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente].
Fernando deixou externado ser importante combater o trabalho de crianças nos lixões brasileiros. De acordo com Silva, as denúncias no DISQUE 100 sobre isso já se situam em patamar crescente. Em primeiro lugar, aparece o trabalho infantil doméstico, com 32%; em segundo, atividades proibidas no lixões, 18%, associado à catação de lixo e trabalho nas vias públicas.
“Foi uma das palestras mais emocionantes. O coordenador José Fernando discorreu sobre flagrantes que ocorrem diuturnamente no País. É uma das cenas tristes que lutamos para que deixe de existir no mapa do Brasil”.
No seminário, foi ressaltada a lista de 33 direitos fundamentais garantidos por lei, extensivos aos filhos dos catadores [que hoje não têm acesso]. Listou-se assim ser imprescindível que tais direitos saiam efetivamente do papel para assumir conotação prática, beneficiando as milhares de famílias de catadoras por meio da adoção de políticas públicas.
“Todos os direitos básicos têm importância fundamental nessa trajetória de lutas do movimento encetado pela categoria das catadoras(es). Empreendemos mais um passo decisivo ao alcance de tudo que ainda está em fase de esboço. Mas nossa intenção é de que seja concretizado. A vida de quem trabalha nas ruas, na condição de catadoras(es), precisa melhorar muito. Se insistirmos, vamos conseguir, sim”, pontuou Kátia.
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