Menina morta levanta do caixão e pede água pra mãe…

Maria Eugênia não tinha nada que levasse sua família a suspeitar de alguma doença. A menina, então com 12 anos, corria feliz pelas ruazinhas empoeiradas de São Tomé das Letras, encantando adultos e mesmo outras crianças. Mariazinha, conforme a chamavam, era anjo de Deus, protegida do Pai Celestial.

O fato é que essa sapeca menina irradiava saúde plena, não havendo o menor indício de que, algum dia, pudesse ser vítima de algo complicado. Nem a família suspeitou do câncer que a prostrou de vez, doença diagnosticada em fase já avançada. Um corre-corre total a partir daí, para providenciar internação da menina e tentar salvá-la…

Por dias, semanas, os médico lutaram contra o câncer, tumores alastrados pelo corpo da pré-adolescente. Mariazinha, para espanto dos familiares e da equipe clínica, dizia abertamente estar chegando sua hora. Pediu, inclusive, que reforçassem as orações, pois desejava ir ao encontro de Deus bem purificada.

Numa manhã cinzenta, dona Cleide recebeu a triste notícia do óbito da criança. Foi através de telefonema choramingado do esposo, que passou a noite no hospital. ]

Em soluços, a pobre mãe desfez a merendeira que comportava frutas e suco para a filha. Ela não precisaria mais de nenhum alimento…

Por tradição, decidiram realizar o velório em casa, ao invés de expor o corpo numa igreja ou casa funerária. Mariazinha amava seu lar!

]O caixão foi colocado na sala principal, ladeado por cadeiras e banquinhos. Um a um, os parentes tomaram assento, muitos chorando inconformados pela perda de tão adorável criança.

Mariazinha, ao contrário da maioria dos cadáveres, jazia com expressão serena, realmente de anjo. Sua prima Márcia afirmava tê-la vista sorrindo em alguns instantes, ainda que de forma fugaz.

Ninguém acreditou nisso, lógico, deduzindo ser mera impressão da garota; Márcia e Mariazinha formavam dupla inseparável, amigas confidentes  há anos.

Lá pela meia-noite, horário em que já não havia muitas pessoas na sala, serviram café com biscoitos. Um café fumegante, da hora, foi anunciado por Tilde, cozinheira da casa.

Tilde nem queria olhar para Mariazinha, derramando lágrimas ininterruptamente. Aquele café devia estar lacrimejante, no mínimo…

Jordão, tio de Mariazinha, insistia em espantar mosquitos atraídos pelo sangue represado no algodão nas narinas da menina. Cobriu seu rosto com véu rosado, explicando que alguém devia buscar repelente. Não raramente, ouvia-se tapas de espanta mosquito na sala…

Comentou também, para estranheza dos presentes, que tanto mosquito atormentava o sono de sua sobrinha…

Matilde, a mãe, agarrada firmemente ao marido Antônio Abreu, chorava sem parar. Dali em diante, sabiam, a vida deles seria um infinito vazio. Mariazinha era filha única…

Novamente, veio a prima Márcia cochichar que a defuntinha mexera os pés e mãos. Márcia foi reprimida por olhares de deixe-de-contar-mentira.  Ela preferiu assim não dizer mais nada, limitando-se a ficar quieta, sentada num banquinho de três pernas.

– Mãe, eu quero água! – disse Mariazinha subitamente, ao ficar sentada no caixão.

No olhar da menina, pairava agora uma expressão incompreendida, de total espanto por estar numa situação inédita. Ainda mais dentro de urna funerária!

Márcia não teve medo da prima, vindo abraçá-la feliz pelo retorno à vida. Afora os pais, nenhum parente ou vizinho permaneceu na sala, debandando da casa como se ali tivesse pipocado tiroteio…

Mariazinha desceu fracamente do ataúde branco, e quis saber o motivo de estar ali. A prima, em saltos alegres, não parava de comemorar, enquanto os pais  a abraçavam, francamente emocionados.

– Quero água, mãe! Muita sede! – repetiu.

O pai correu à cozinha para trazer água, mãos tremulando pela graça alcançada.

Ao retornar à sala, no entanto, a menina jazia inerte no colo da mãe, olhos abertos opacamente, sem vida.

– Ela partiu para sempre… – disse a mãe, sem entender nada.

A priminha Márcia, por sua vez, chorava desconsolada, alisando os cabelos de sua melhor amiga, parceira de tantas brincadeiras engraçadas.

QUEM FICOU assuntando perto da porta, ao invés de sair correndo, não tardou a esparramar a notícia, e, aos poucos, os medrosos parentes e amigos voltaram à sala, sendo reiniciado o velório.

Precisaram providenciar mais flores, em virtude das que cobriam o corpo da menina terem se espalhado pela sala inteira.

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Mariazinha foi enterrada na manhã seguinte, às 10h. Antes do sepultamento, um médico legista fez testes para comprovar que realmente cessara todas as funções biológicas do pequeno cadáver; depois disso, o corpo da criança foi acondicionado na cripta familiar.

O mais surpreendente aconteceu oito anos depois, ao abrirem essa cripta para receber o corpo de Antônio Abreu, o pai de Mariazinha: o corpo da menina estava intacto, parecendo dormir o sono dos justos – ou dos anjos. Quem foi ao cemitério comprovou esse milagre…

Por João Carlos de Queiroz, jornalista

OBS> Ao relatar casos que escutei aleatoriamente, por parte de amigos ou desconhecidos, não tenho como comprovar sua veracidade. Limito-me apenas a expor aquilo que me contaram, nada mais. Ignoro se os ditos relatos se baseiam em crendice popular, boataria sem fundamento.

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