Há fantasminhas no Novo Terceiro, em Cuiabá
PARTE II
Diz-se que crianças fantasmas andam perdidas pelas ruas do bairro Novo Terceiro, seja de dia ou de noite. São alminhas que repousam sob as casas e ruas do bairro, confirmando, assim, as histórias de o bairro ter sido local de guarda-defuntos. Os mais antigos falam isso mansamente, como se fosse informação essencial para compreender tanta inquietude do além infantil.
A descoberta da existência de cemitério no terreno do bairro aconteceu quando da edificação dos barracos. Em busca de maior privacidade, alguns moradores ergueram muros, abrindo valas profundas para garantir alicerce reforçado. Qual não foi a surpresa dos construtores ao encontrar ossos e crânios humanos!
Não havia sinais de urnas funerárias, fator facilmente explicado: a exemplo das roupas, a decomposição das urnas acontece completamente após muitos anos.
O grande terror de algumas famílias foi ter se deparado com defuntos de cabelos e unhas compridas. A Ciência ainda não descobriu por qual motivo continuam a crescer depois que o corpo cessa suas funções biológicas.
Para alívio geral, nenhuma das caveiras emitiu sorriso de bom dia ou boa tarde no ato da profanação do seu sono eterno. A esquisitice foi ver tantos guardados fúnebres no próprio quintal. Vida que segue…
Se o Novo Terceiro foi ou não cemitério, não vem muito ao caso: a abordagem em foco se relaciona à série de aparições de fantasminhas diurnos e noturnos. Tantas crianças mortas andando nas sombras da luz solar e da lua incomoda, sim.
Por causa dessa insistência em permanecer perambulando no plano terrestre, as alminhas em questão afugentaram muitos moradores do Novo Terceiro. Explica-se a quantidade de casas de aluguel desocupadas há anos.
Além da infestação de ratos, aranhas caranguejeiras fazem alarde de rainhas do lar em muitas residências vazias. Conheço uma família que simplesmente desistiu de uma casa por não aguentar a invasão de aranhas: elas andavam em fila pelas paredes, assustando desavisados em todos os lugares.
A debandada forçosa da família mencionada ocorreu numa bela manhã ensolarada, momento em que a mulher foi acordar a filha para ir à escola. A menina, no sono de anjo, nem percebeu que três grotescas caranguejeiras dormitaram sobre seu lençol, enquanto outras duas estavam posicionadas na parede ao lado.
Pelos relatos, houve ainda casos em que essas horrendas cabeludas acariciaram nádegas nos vasos sanitários. Em outros casos, vieram juntas com o papel higiênico. Difícil, assim, concluir a higiene da descarga fecal…
OBS> Não há indícios formais, apenas suspeitas, de que aranhas e fantasminhas tenham feito macabra associação para perturbar o sossego dos moradores do Novo Terceiro.
A meu ver, há controvérsias interessantes em curso, e algumas desafiam conclusões mais racionais. Não se explica, por exemplo, que tantos lugares tenham sediado cemitérios e, de repente, tudo desapareça magicamente, incluindo os próprios defuntos. Nem sempre alguém encontrou ossadas para atestar a veracidade dos boatos. É fato em incontáveis lugares do Brasil e do mundo.
Por outro lado, se os restos mortais aparecem, vêm realmente à tona, depois de longa hibernação no seio da terra, a sete palmos ou algo similar, aí fica mais ou menos provado que aquele lugar foi palco de enterros consecutivos. .
Se há alguma veracidade nisso tudo, temos no Novo Terceiro uma revolução pacífica dos mortos pela quebra do repouso que desfrutavam em sepulcros virgens, invisíveis pelo disfarce vegetal dos tempos. Afinal, para os defuntos, uma cova significa Doce Lar, e sua violação implica em represálias imediatas. Assustar os vivos é uma boa estratégia…
Por João Carlos de Queiroz, jornalista
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*Quem contestar, que apresente publicação idêntica, ANTERIOR a esta data.
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