Minha saudosa mini-enduro era só poesia…
Anos 70 – Ainda quando trabalhava na Reitoria da Fundação de Ensino Superior do Norte de Minas Gerais, adquiri a Yamaha mini-enduro. Posso descrevê-la como uma pequena notável, e, apesar da baixa cilindrada, 50, tinha garra valente. Tanto que costumava levantar a roda em algumas arrancadas rápidas.
Essa cinquentinha, posso afirmar seguramente, era o oposto das atuais, que denotam fragilidade e pouca força. A mini-enduro levava piloto e garupeiro sem pestanejar, potência escancarada em burburinho comedido.
Além de servir como instrumento de trabalho, distribuindo correspondências da Reitoria, essa mini-enduro facultou muitos momentos aventureiros e também românticos, a exemplo do furta-rosas em jardins para distribuir às musas cobiçadas na city.
Nessa tarefa de presentear as meninas com flores e bilhetes pretensiosamente românticos, enfrentei noites geladas e muita garoa. Só encostava o tronco metálico da mini-enduro após cumprir tal jornada.
Já na fase aventureira, a cinquentinha cumpriu itinerários viajantes para várias cidades próximas, incluindo meu querido Pires e Albuquerque.
Por opção dos parentes paternos que residem lá, o município bocaiuvense foi o mais visitado pela mini-enduro. Geralmente, tais viagens aconteciam nos finais de semana.
Certa vez, convidei um animado grupo de motoqueiros para me acompanhar até lá, a fim de prestigiarmos o carnaval. Ao chegarmos à praça principal, desejando agitar a folia, entramos com as motos no meio dos foliões, dispersando toda a escola.
Alguns se excederam, levantando a roda no meio das alas carnavalescas. Debandada geral, além de gritos de “salve-se quem puder…”
Isso implicou em fuga desastrada, e vários motoqueiros saíram de pontos diversos para desembocar na Br-135, de volta a Montes Claros.
No dia seguinte, ficamos sabendo que dois colegas dormiram atrás das grades, flagrados nessa fuga por PMs.
Foi hilário ver os colegas motociclistas surgindo afoitos em cada ponto do barranco, ansiosos para “cair na rodovia” e, acelerador aberto, sair das garras perseguidoras dos militares.
Em Coração de Jesus, entusiasmado em mostrar a potência da mini-enduro, empinei a roda dianteira na praça principal, minutos antes de deixarmos a cidade. Resultado: minha calça enroscou na corrente e caí feio. Muitas vaias…
Também perambulei por Pires e Albuquerque. Contando isso hoje, muita gente duvida. É porque conhecem aquela serra alta que desemboca em Pires, a partir da rodovia asfaltada. Duvidaram mais ao saber que levava garupeiro, José Eduardo Lopes.
O mais difícil, nessa pequena, viagem não foi subir a serra, visto que a cinquentinha dois tempos mostrou valentia costumeira, detonando fácil a ladeira cascalhada. Lá de cima, demos tchau para Pires…
Agora, ao transpormos o capãozinho, lutei para a Yamaha não atolar no lamaçal represado no túnel de mato. Mais uma vez, a mini-enduro passou no teste…
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Uma prova motociclística de peso, a bordo da mini-enduro, aconteceu em Belo Horizonte, quando fui levá-la para se submeter a retífica do motor. O desembarque aconteceu no bairro São Francisco, região periférica da capital, sede da empresa em que meu pai trabalhava (Expresso Mineiro).
Apesar de o motor tamborilar anéis em fim de carreira, fui pilotando até o centro de BH. Menos de 30 minutos estava na Rua Rio de Janeiro, 855, Edifício Riachuelo, endereço da madrinha.
Pelo tom simpático de cumprimentos, o síndico permitiu que subisse com a moto até o apartamento 1.203, no 12o. andar.
Por dias seguidos, com motor retificado, mais forte, rodei por toda BH, conhecendo lugares fantásticos. Um dos pontos favoritos era voltear pela Pampulha, bisbilhotando o longo trecho ao redor da lagoa.
Ficava fascinado ao ver a baixa altura com que os aviões, em processo de aterrissagem no aeroporto próximo, passavam por ali.
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