Ainda que o trem não venha, teremos um museu!

Pires e Albuquerque-MG, antigo distrito bocaiuvense, rebatizado de "Alto Belo", ainda espera o Trem Azul passar ao largo da hoje inexistente plataforma da estação ferroviária local...

A ideia surgiu de repente: instituir o Museu do Trem, em Pires e Albuquerque, atual Alto Belo, seria quase um resgate dos bons tempos ferroviários registrados no famoso distrito bocaiuvense, igualmente pródigo em lendas e histórias reais.

O Trem Azul já passou por ali milhares de vezes, mas encerrou suas atividades há décadas, frustrando a todos. Há jovens que anseiam por “reviver” algo que sequer conheceram, na prática.

Atualmente, Pires e Albuquerque assiste apenas o trânsito diário de impessoais comboios cargueiros, que sequer diminuem a marcha ao passar pelo miolo da modesta comunidade. O destino final é Belo Horizonte ou São Paulo.

Para quantos viveram a prazerosa época do Trem Azul e, também, do Trem Marrom, apelidado de “Trem Baiano”, prevalece inesgotável vácuo saudosista, instigando projetos de retorno dos serviços da charmosa composição; esboços previamente traçados como inviáveis.

Em resumo, os moradores de Alto Belo sonham em ver o Trem Azul aportar ali algum dia, apesar de sequer existir escombros do antigo terminal de passageiros. O tempo costuma ser impiedoso para apagar lembranças…

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Conforme discorri anteriormente, a passagem do Trem Azul – idas e vindas, entre Montes Claros e Belo Horizonte – representava movimentação agitada em Pires e Albuquerque. Pude presenciar algumas, a exemplo do alegre corre-corre dos habitantes para não perder nenhum lance de chegada ou partida dos comboios.

Na minha memória, ainda são nítidos os gritos dos vendedores de laranja, limão, pequi, biscoitos e frutas ao longo da estreita plataforma. E o Trem Azul, em chiados estrondosos, resfolegava impaciência para partir, enquanto mãos saíam nervosamente das janelas para comprar o que fosse possível dos ambulantes.

Muitos vendedores humildes corriam frustrados pra tentar receber $$$ dos que partiam e levavam seus produtos; cano explícito de sacanagem. Depois, cabisbaixos, deixavam a plataforma de volta aos sítios…

Mesmo naquela época, já havia espertalhões insensíveis, capazes de enganar pobres agricultores. Os trocados furtados, resultantes do não pagamento de frutas e doces, significavam o almoço de alguma família…

“MUSEU DO TREM TÉO AZEVEDO”

Minha sugestão – e espero que não pare por aqui – é para que a empresa concessionária dos atuais serviços ferroviários no Norte de Minas Gerais traga um dos vagões do Trem Azul, ou mesmo do Trem Marrom, para Pires e Albuquerque. Alguns estão abandonados em Montes Claros e outras cidades da região

Notem que me recuso a chamar Pires de “Alto Belo”, pois conheci o adorável lugar com esse nome, e, enquanto viver, para mim será sempre Pires e Albuquerque.

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Voltando a falar do Museu: o vagão do futuro MUSEU DO TREM poderia ficar estacionado em Pires, em cima de trilhos próximos aos usados hoje pelos cargueiros. Comportaria fotos dos tempos da R.F.F.S.A. e de funcionários da empresa, muitos já falecidos.

Pelo Facebook, quando falo do Trem Azul, geralmente ouço alusões a algum maquinista veterano ou detentor de outra função técnica ou de apoio geral, na antiga R.F.F.S.A.

Assim, no meu modestíssimo entendimento, dispomos de legião de nomes que merecem ser homenageados. Afinal, cumpriram a nobre missão de transportar e assegurar a segurança a milhares de passageiros que deslizaram pela via férrea dia após dia, durante décadas.

O nome sugerido do Museu do Trem se justifica: Téo Azevedo é um dos mais destacados incentivadores culturais do distrito de Pires e Albuquerque. Homem da música, das letras, das trovas poéticas… Cidadão que ama sua terra natal sinceramente, alardeando suas riquezas natas na mais absoluta simplicidade.

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PARA inovar, quando aberto, o Museu do Trem Téo Azevedo, além de sediar farto acervo fotográfico, poderia exibir filmes alusivos às ferrovias mineiras e do Brasil afora no período noturno. Imagine a cena: pessoas assistindo as próprias histórias, e com direito de ver algum cargueiro passar bem ao lado…

Não se concebe, é outro detalhe, a instalação de museu similar sem que disponha de aconchegante espaço gastronômico. Refiro-me a um barzinho de viva comemoração a qualquer movimento ferroviário em curso. Até mesmo a fria passagem dos comboios cargueiros seria aplaudida efusivamente pelos que lá estivessem…

Fica registrado esta ideia de minha autoria. E, por favor, não a interpretem como utópica, falta do que fazer: é fruto genuíno de uma paixão ferroviária que acalento desde minha tenra infância! AMO TRENS!

Por João Carlos de Queiroz, jornalista Mtb-381.18

 

 

 

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