A bruxa de Pau D’óleo me conquistou…

PRIMEIRA PARTE...

Não é todo dia que a gente desemboca numa cidade pequena e farta em lendas misteriosas. Pau D’Óleo tem tudo que alguém deseja para se tornar torrão de férias bem interessante, li em algum lugar. Nunca tal anotação saiu da minha cabeça.

À primeira vista, a pacata cidadezinha pernambucana, incrustada no sem fim do Nordeste, assume fisionomia acanhada para receber visitantes, espécie de desculpas pela ausência de atrativos turísticos. Ledo engano: é aí que as coisas – e algumas bem sinistras – começam a acontecer…

Ao desembarcar de uma ordinária jardineira, único recurso para chegar lá, a partir de Recife, joguei a mochila empoeirada na rua de paralelepípedos esbranquiçados, sentindo-me em território do Velho Faroeste. Só faltava aparecer índios, pois o que vi de pessoas largadas em cadeiras de balanço calçadas afora…

O horário, tive que admitir, condizia com a inegável sesta, repasto sonolento sem hora para acabar. Também, o tórrido calor não ajudava a ter nenhum ânimo trabalhador…

Perguntei a um senhor grisalho, de barba escovada, pelo endereço do hotel, e, sem responder, apenas apontou para duas esquinas à frente. Mais gestos alheios, igualmente mudos, confirmaram que aquele seria um bom lugar para minha hospedagem.

Mochila nas costas, rumei direto para o dito hotel. Logo constatei não passar de pensão de terceira categoria, imóvel entremeado de entra e sai de caras de bebuns o tempo todo.

Evidente não haver outras opções de acomodação em Pau D’Óleo, e assim fiz o registro, expressão resignada. Começava a me arrepender da jornada a Pau D’Óleo…

“Quarto 15, à esquerda do primeiro corredor”, informou uma senhora obesa postada num balcão encardido na sala de estar. Ainda acrescentou mecanicamente o preço da diária.

“Refeições, só do outro lado da praça, no restaurante de sinhá Antônia. Vai gostar do tempero dela. Só não descuide com a pimenta…”, avisou.

Quis saber se serviam café da manhã naquela pensão, e a impessoal anfitriã emitiu grunhidos de “han, han”, sem me fixar. Concentrada, anotava algo numa caderneta, não sei o quê…

De repente, jogou a caneta e a caderneta de lado, saindo detrás do balcão e gesticulando para segui-la. Levou-me até à porta do quarto, talvez pensando que pudesse não achá-lo.

Agradeci pelo gesto educado, forçando sorriso de reconhecimento. Mas foi um gesto pura inutilidade: a mulher volteou o corpo subitamente, retornando ao balcão em marcha bamboleante pelo corredor escuro da casa sem laje. Ainda bem que não captou meu sorriso desencantado…

A Primeira Noite…

Pau D’Óleo dispunha somente de geradores termoelétricos para garantir energia local. As duas máquinas eram desligadas duas horas após o cair da noite, e aí cabia aos moradores se valer de outros recursos para não ficar na escuridão: velas, lampiões a gás, lamparinas a óleo, geradores caseiros, etc.

Esse último, fui informado, ninguém tinha. Porém, ao cair da noite, cada residência cintilava luzes trêmulas, gerando sombras assustadoras nas paredes. Algumas se projetavam nas calçadas, sendo pisoteadas pelos transeuntes com pressa de se recolher ao lar.

A dona da pensão jamais saía do seu posto, sempre entretida em anotações segredistas. Ao deixar a pensão à tarde, disposto a comer algum salgado, ela me olhou por cima dos óculos de grau, informando haver velas e fósforos no criado antigo, ao lado da cama.

“Sugiro que o senhor coloque água na moringa para não passar sede. O filtro está logo ali, coberto com pano de prato xadrez. É ruim ter sede e andar pela casa às escuras. Velas ajudam pouco nesses momentos, vai comprovar…”, aconselhou.

Só balancei positivamente a cabeça, entrando no seu jogo de poucas palavras. E dei boas passadas para procurar uma pastelaria caseira, informação repassada por um dos hóspedes. Pastéis fritos na hora, nada de encomenda antecipada. Cairiam bem…

Ainda saboreando imenso pastel de queijo, retornei à pensão antes que as sombras noturnas me colhessem andando pela cidadezinha. A porteira, estranhamente, sumira do seu posto. No quarto, peguei uma toalha e dei sorte de encontrar o banheiro vazio. Dormir sem lavar o corpo, nem pensar!

 

 

 

 

 

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