Pandemia desafia Paralimpíada histórica da esgrima brasileira
Duas edições após estreia com um só atleta, país terá quatro em Tóquio Por Lincoln Chaves - Repórter da TV Brasil e Rádio Nacional - São Paulo
As quatro vagas obtidas pela esgrima em cadeira de rodas brasileira à Paralimpíada de Tóquio (Japão) já são históricas. Em 2012, na estreia paralímpica do país na modalidade, apenas Jovane Guissone competiu nos Jogos de Londres (Reino Unido), e voltou de lá com a medalha de ouro.
“Foi uma evolução muito grande. No Rio de Janeiro [em 2016], tivemos vagas [automáticas] por sermos o país-sede, foram sete. Agora, são quatro atletas com vagas conquistadas e a chance de mais dois também se classificarem. A avaliação é positiva”, afirma o técnico da seleção brasileira, Ivan Schwantes, à Agência Brasil.
Na capital japonesa, Jovane será novamente um dos representantes do Brasil na categoria B (atletas com menor mobilidade no tronco e equilíbrio) junto de Vanderson Chaves e Mônica Santos. Na categoria A (amputados ou com limitação de movimento, mas com mobilidade no tronco) estará Carminha Oliveira. Ela ainda pode ter companhia de Fabiana Santos e Alex Sandro Souza ou Moacir Ribeiro, conforme variáveis do ranking da Federação Internacional de Esportes para Cadeirantes e Amputados (IWASF, na sigla em inglês) para preenchimento de vagas restantes para equipes.
“A maior esperança de medalha é, sim, o Jovane. Ele está muito bem no ranking de espada, em quarto [lugar]. Foi campeão da última etapa que teve da Copa do Mundo, em Eger [Hungria, em fevereiro de 2020]. O planejamento era de ele chegar no auge em Tóquio. Deu certo, infelizmente, [a Paralimpíada] foi adiada [para 2021]. Mesmo assim, ele vem treinando muito forte no clube dele [em Porto Alegre]”, conta Schwantes.
“O Vanderson e a Mônica chegam com mais experiência para a segunda Paralimpíada. E temos a Carminha, que estreará nos Jogos. Por ser a única dos quatro na categoria A, a mais competitiva, com mais atletas, ainda mais sendo a primeira Paralimpíada dela, esperamos que ganhe experiência e se solte, sem pressão, jogando o bom jogo que ela tem, de qualidade técnica muito boa”, completa.
A preparação, no entanto, sofre com o impacto da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Desde que a crise sanitária começou, a seleção não conseguiu se reunir presencialmente e os atletas têm intercalado os treinos in loco com atividades caseiras, devido à suspensão do funcionamento dos clubes, por conta de decretos para tentar conter a disseminação do vírus.
“A gente fez encontros online, treinos online. Tenho acompanhado os atletas com seus técnicos, sei que eles têm treinado dentro do possível, em suas bases, mas não é a mesma coisa de antes da pandemia, porque diminui a frequência, têm de manter o distanciamento, então menos pessoas podem frequentar as salas. Principalmente em relação a outros países, onde muitos estão treinando normalmente e a gente vive uma nova onda, com tudo fechando novamente. Estamos todos bem focados na Paralimpíada, mas claro que [a preparação] é longe do ideal”, diz o treinador, que assumiu a seleção nacional após os Jogos do Rio.
“Antes da pandemia, a ideia inicial era fazermos estágios [de treino] nacionais e internacionais, reunindo a seleção, contratando sparrings [parceiros de treino] da esgrima convencional para puxar o nível dos atletas. Agora, estamos em stand-by. Os estágios internacionais estão praticamente descartados. Vamos ver se conseguimos fazer uma preparação reunindo os atletas classificados, mas não é certeza”, completa Schwantes.
Também por conta da pandemia, a seleção pode chegar em Tóquio sem nenhum torneio disputado no ano. A etapa brasileira da Copa do Mundo, em abril, e o Campeonato Regional das Américas, em maio, ambos em São Paulo, foram cancelados. A expectativa é que a delegação participe da etapa de Varsóvia (Polônia) do circuito mundial, entre 8 e 11 de julho, a última antes dos Jogos.
“A etapa está prevista, mas não sabemos se ela irá acontecer ou se os brasileiros poderão viajar para lá. É complicado, pois se não tiver competição, os atletas estarão há quase um ano e meio sem competir. Isso é ruim, pois o ritmo de jogo é importante na preparação”, encerra o técnico brasileiro, que é irmão do esgrimista Athos Schwantes, que disputou as Olimpíadas de 2012 e 2016.
Edição: Cláudia Soares Rodrigues
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