Fã da ração Matsuda, protetora de animais em Cuiabá diz que seu maior temor é faltar alimentos para seus protegidos
A aposentada Hortência Júlia de Aguiar cumpre extenuante jornada diária para alimentar dezenas de cães e quase duas centenas de gatos abandonados nas ruas de Cuiabá. Seu principal temor é de que falte ração para tantos animais. "Vou trabalhando até aguentar: não posso é deixá-los com fome"
Já na casa dos 70 anos de idade, com problemas diversos de saúde, incluindo artrose, o que dificulta a mobilidade, a aposentada Hortência Júlia de Aguiar, residente em Cuiabá, próximo à Arena Pantanal, diz ficar desesperada quando não consegue manter regularmente o estoque alimentar dos caninos e felinos sob sua proteção. Ao todo, ela assiste mais de 200 animais, alguns abrigados em sua residência e a maioria em casas e lotes abandonados da proximidade. São pontos de “parada” de sua rotina alimentar diária aos desvalidos.
Ela garantiu que seus protegidos têm especial predileção pela ração da marca Matsuda, que possui fábrica em Várzea Grande, município vizinho a Cuiabá. “Eles adoram muito essa ração: só de sentir o cheiro, já ficam alvoraçados. O problema é o preço alto de qualquer produto do gênero, seja de qual marca for. Tenho me desdobrado assim, de todas as formas, para conseguir alimentá-los diariamente. Mas já houve dias em que fiquei apreensiva, sem nenhum dinheiro e com o estoque quase no fim. Ouvir miados de fome e ganidos pedindo comida, sem que você tenha o suficiente, é muito doloroso…”
Hortência confessa que costuma recorrer a alguns amigos mais chegados nesses momentos de aflição, a exemplo da cunhada Abadia, o delegado Cavado, também aposentado, e os vizinhos Júnior, Graça e Vanessa Pinho, que possui uma ONG de proteção aos animais. “São pessoas maravilhosas, de coração iluminado. Mas eu não gosto de abusar e ficar sempre pedindo ração: é preciso respeitar limites”.
Mesmo aposentada, Hortência ainda presta serviços {na área de limpeza} à Polícia Judiciária Civil, órgão em que coordena equipes atuantes nas delegacias da capital. Ela diz que os proventos de aposentada são insuficientes para garantir a alimentação dos animais que acolheu em casa e das centenas que alimenta nas ruas adjacentes, motivo pelo qual precisa trabalhar.
Sem carro para transportar ração, água e leite, Hortência se utiliza de um carrinho de supermercado para cumprir essa missão caridosa nos finais da tarde. “É quando o sol está mais ameno; aí, consigo andar sem ficar muito cansada”, explica. Ela recorda, saudosa, dos tempos em que tinha um velho Monza (Chevrolet), veículo que utilizava nesse vai e vem rotineiro. “Fui obrigada a vendê-lo, para não deixar meus filhinhos adotivos passarem fome”.
APOIO DA CLÍNICA VETERINÁRIA SÃO BERNARDO
Além de todo esse sacrifício para alimentar animais de rua, Hortência também providencia socorro veterinário quando algum deles necessita. O “anjo da guarda”, nesses casos, é doutora Cristina Helena, da Clínica São Bernardo, na Avenida Mato Grosso. “Ela é uma mulher do bem. Tem me auxiliado muito com cirurgias e atendimento geral. Cobra apenas aquilo que consigo pagar, e, não raramente, aguarda que pague o atendimento quando tenho algum recurso disponível. Não fosse a doutora Cristina, muitos animais teriam morrido à míngua. Deus haverá de recompensá-la algum dia, tenho certeza”.
Hortência já se tornou figura conhecidíssima na região da Arena Pantanal, por onde transita com seu carrinho carregado de alimentos para os animais. Sempre ajuda os moradores de rua, parceiros de proteção aos animais. “Eles não fazem mal aos animais, pelo contrário: protegem. Então, costumo alimentá-los, comprando marmitas, fornecendo roupas, essas coisas. São seres humanos que também precisam de ajuda”, diz com semblante sério.
Em função dessa maratona solidária à causa animal, executada durante dezenas de anos, Hortência ganhou a simpatia geral da comunidade do Grande Verdão. Por onde passa ela recebe cumprimentos e muitos elogios. Educada, geralmente para e conversa com quem a aborda, entrevendo sorrisos meigos, cansados, no decorrer do diálogo. Os vizinhos reconhecem que não é fácil para uma pessoa idosa cumprir uma atividade tão penosa todos os dias. “Só peço a Deus para não morrer antes de todos os meus protegidos ganharem um lar decente”, diz sonhadora.
Essa missão caridosa executada por Hortência dura em média duas horas e meia; é quando retorna à sua casa, já noite fechada. Para trás, lambendo os beiços, com a barriga cheia, uma legião de gatos adentra novamente nos lotes que transformaram em lar, convictos de que Hortência estará ali para alimentá-los no dia seguinte.
“Sempre deixo ração extra nas vasilhas todas as tardes, para almoçarem enquanto não chego. O ruim é que alguns insensíveis têm furtado essa ração, fato que constatei várias vezes. Aí, os bichinhos ficam sem nada para comer enquanto não chego lá. É muita insensibilidade furtar o alimento de seres inocentes e que só têm isso para sobreviver”, queixa-se.
*Quem quiser ajudar Hortência com ração, fineza ligar pra ela: (65) 9-9973.4556
Por João Carlos de Queiroz
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