O último olhar à vida no vagão do trem…

Nos anos 70, quando o transporte ferroviário {de passageiros} estava no auge em todo o país, muitas pessoas viajavam na porta do vagão de retaguarda das composições. Ficavam ali, observando o deslizar dos trilhos que iriam conduzi-los a algum destino seguro. Hoje, o mundo inteiro viaja de forma semelhante, à exceção de que desconhece qual é a próxima parada...

Com o coronavírus apitando nossos destinos, o mundo inteiro está submisso à ameaça imposta pelo inimigo das sombras. O coronavírus tem destruído estruturas de vidas estáveis, que marchavam, até há pouco tempo, para anos à frente de provável felicidade, agora transformada em dilúvio de terror. Simplesmente não dá para saber se o hoje terá algum amanhã melhor; ou se o próximo féretro não estará no centro de nossa sala.

Na verdade, o que alguns interpretam como “mão pesada de Deus”, forma divina de nos penitenciar pelo ápice da sanha pecadora humana, pode significar o fim da humanidade. Ou seja: o fim do mundo, de qualquer espécie viva no planeta. Isso porque o coronavírus, existente há décadas, tem idêntico poder de extermínio sobre espécies diversas de animais (gatos, cachorros, aves, suínos, ovinos, etc.). Somente não há vacina, contra o coronavírus, para os felinos domésticos.

É importante ressaltar que nenhum desses animais transmite o vírus para o ser humano, pois se encontram numa linha de passividade de contágio pelo próprio homem. Ou seja: é ele, o homem, quem pode infectar o animal, não o contrário.

O maior transmissor do vírus continua sendo o morcego, segundo apontam infectologistas, mas não devem ser exterminados, em função do grande papel que representam para o equilíbrio da natureza. Ademais, é crime matar morcego, já fica aí o aviso para quem ousar assumir papel de caçador desses pequenos vampiros.

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Coronavírus já era combatido desde os anos 70. O novo coronavírus veio robustecido, imune a várias tentativas de imunização, daí o massacre humano que tem perpetrado em vários países. As vacinas veterinárias desenvolvidas não têm qualquer eficácia no homem…

Na década de 70, quando foi desenvolvida a primeira vacina contra o coronavírus, com o objetivo de imunizar aves, os prejuízos na área de avicultura eram gradualmente catastróficos. Daí em diante é que se observou a presença desse vírus também em outros animais, resultando em mais vacinas. Os cientistas só não imaginavam que esse vírus ressurgiria com poder letal incontrolável, ameaçando todo o mundo.

Com tantas mortes e um quadro crescentemente assustador, volto a recordar a antiga imagem de alguém postado na porta dos fundos do último vagão do Trem Azul, extasiado pelo espetáculo proporcionado pelo frenético contorcionismo dos trilhos, a cada quilômetro. Cenas que tinham clara conotação prazerosa, imaginava ao vê-las.

Muitos desses desconhecidos passaram imunes diante dos meus olhos, e pude assim acompanhar suas silhuetas longínquas balanceando levemente no ritmo matraqueado das composições ferroviárias, para depois desaparecerem magicamente em alguma curva. Não existia, até então, o fantasma de morte do novo coronavírus…

Hoje, esses mesmos passageiros devem observar presumivelmente o destino sinistro que desliza trôpego sob seus olhos apreensivos, pois ignoram se poderão aportar seguros em algum destino improvável. Difícil imaginar que algum deles esteja agora sorrindo feliz, quando o coronavírus pode estar entre os passageiros do trem da vida, ditando letalmente as próximas paradas.

É mais fácil deduzir então que muitos desses olhos viajantes estejam previamente umedecidos por lágrimas de confessa angústia. Pois estão conscientes de que alguma escuridão súbita, a morte, intervenha ali e sele a continuidade dessa viagem tão estranha na qual todos nós embarcamos.

As mortes causadas pelo coronavírus têm sido anunciadas com o idêntico estardalhaço do apito do trem.  Sintetizam, aliás, o apagar das luzes de qualquer espetáculo teatral, quando as cortinas são cerradas e o ato de interpretação interrompido por completo. Consequentemente, todas as viagens imaginárias ou reais perderam qualquer atração apreciativa no eclodir da maior ameaça que a Terra já enfrentou…

Por João Carlos de Queiroz, jornalista

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