Carroceiro merece é cadeia, não proteção da Justiça! Com a lei aprovada em Cuiabá, fica mais fácil punir esses torturadores de animais
Não tenha piedade de carroceiros: eles sempre alegam utilizar animais para "sustentar suas famílias". Uma balela descarada: a maioria nem tem família, vive sozinho, e o dinheiro que recebe pelos serviços prestados efetivamente pelos nobres animais é queimado com cachaçada. De parabéns a Câmara de Cuiabá por sair em defesa dos quadrúpedes que vinham sendo torturados e imolados abertamente nas vias públicas!
Por João Carlos de Queiroz – Tenho confesso aversão a carroceiros. Na minha ótica, são pérfidos humanos que exploram quadrúpedes inocentes, totalmente insensíveis à dor de suas chagas (nas costas, pernas) e à prostração física imposta aos animais. Situação evidenciada nos corpos esqueléticos e cambaleantes de quadrúpedes pelas ruas brasileiras e em outras partes do mundo.
Nos meus 63 anos de vida, apenas encontrei dois condutores de carroças mais sensíveis. O que não os isenta da malvadeza criminosa de escravizar quem não pode se defender. Um deles, por sinal, é morador da região do Novo Terceiro. Vangloria-se hoje de já estar aposentado dessa asquerosa função. Perguntei pelo cavalo, que dizia ser parte de sua família. Animal que, anos atrás, foi esfaqueado covardemente por usuários de drogas no Morro do Condor, onde pastava.
“Ah, aquele cavalo eu vendi. Nunca mais tive notícias dele”, foi sua tranquila resposta. Quer dizer: ele se aposentou, sim. Já o cavalo, a aposentadoria só vai acontecer quando morrer. Ou estiver totalmente debilitado para trabalhar. Aí, vai virar alimento embutido, após morte dolorosa num frigorífico oficial ou matadouro clandestino (discorro mais adiante sobre isso…). A meu ver, tais condutores se assemelham à conduta gelada do alemão Hitler, responsável pelo extermínio sanguinolento de milhões de judeus.
Carroceiros, em geral, não têm qualquer apreço pelos animais que os sustentam e bancam suas cachaçadas. Ao invés de alimentarem quem garante a feira no armazém e a citada cachaça, preferem deixar os inocentes trabalhadores amarrados na porta de botecos durante horas, não raramente sob sol causticante, sem água ou comida. Atitude considerada “normal” aos olhos cúmplices de expressiva faixa da sociedade, que finge não ver o transcurso de bárbara covardia criminosa.
Recordo ter salvo muitos animais da sanha covarde de condutores. Nos idos dos anos 80, em Montes Claros-MG, flagrei no Morada do Parque um carroceiro chibatando uma égua que abortara pelo peso excessivo da carroça, não conseguindo subir a Avenida “A”. O animal estava banhado em sangue, ao lado do seu feto, já bem formato, envolto na placenta. A égua apanhava sem relinchar, tamanho era o estado de sua fraqueza.
O revoltante era que essa covardia tinha assistência passiva de dezenas de pessoas, e ninguém moveu um dedo sequer para ajudar a égua. Cena que devia servir ao sadismo de muitos…
Ao chegar e emitir ordem enérgica para o carroceiro parar com aquela tortura, ele veio todo valente para me agredir. Porém, para azar do condutor, eu estava armado, revólver 22. Arma em punho, encostei o cano bem no meio de sua testa, enchendo-o de tapões seguidos. “Covarde desgraçado: reaja para que eu dispare agora, vamos!”, incentivei. O agressor de animais ficou acovardado, temeroso de que cumprisse o prometido. Assim, aguentou mais tapões, que estalavam feito chinelo na sua cara. Alguém chamou a polícia, e não tardou para o inspetor Ronaldo aparecer numa viatura da Civil, preto e branco.
“Guarde essa arma e saia daqui, por favor”, instruiu-me gentilmente. Conhecia Ronaldo há tempos, era meu amigo. Só não sabia que ele odiava carroceiros. Ainda vi quando ele acertou um murro lateral no condutor, jogando-o dentro da viatura. Pelo noticiário da TV, soube que “deram bom trato” ao elemento covarde, que foi parar numa Unidade de Terapia Intensiva urinando sangue.
De outra feita, no bairro Todos os Santos, dois carroceiros espancavam uma mula, que não conseguira subir uma ladeira próxima. Havia muitas toras na carroça, peso evidenciado pelos pneus baixos. O carroceiro que estava na boleia desferia chicotadas, enquanto o de baixo a cutucava com um pedaço de pau para se levantar.
Naquela época, eu namorava com Ana Cristina Mendonça, arquiteta, e ela percebeu que iria interferir, pedindo-me para não fazer nada. Não tinha nenhuma arma comigo, para piorar. Mesmo assim gritei alto: “Covardes! Venham bater em quem pode se defender!”
Os dois carroceiros pararam a tortura, e o que estava açoitando a mula já pulou da boleia direto em minha direção. Pelo seu jeito de correr para me agredir, eu seria massacrado. No entanto, algo aconteceu diferente naquela noite: apesar de ter porte físico inferior ao carroceiro adulto, eu vi nele apenas uma criança incapaz de me bater. E revidei a tentativa de agressão com uma sequência de chutes e socos, terminando por estatelar seu rosto numa grade de madeira de planta. Ele desmaiou na hora.
O outro tentou se evadir do local, mas fui atrás e o massacrei da mesma maneira. Só não bati mais porque caiu uma massa de gente em cima de mim. “Vai matar ele, segurem!”, diziam em relação ao carroceiro que eu espancava sem dó. Chamaram a PM, veio o tenente José Maria, Zequinha, casado com minha prima. “Vai pra casa, deixe isso comigo”, pediu. Saí ainda olhando os dois covardes desmaiados…
Só pra citar, naquela época eu praticava caratê, era faixa verde. Arrebentava pilhas de tijolos e telhas com as mãos. Somando-se à técnica dos golpes, a fúria de ver a covardia contra a mula aumentou o poder dos golpes…
Agora mesmo, enquanto escrevo sobre esse tema, deve estar acontecendo horrores do tipo em muitos lugares. O silêncio resignado dos escravos quadrúpedes (ver foto da capa) não é incômodo para os festeiros insensíveis.
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MUITOS MUNICÍPIOS E ESTADOS BRASILEIROS JÁ OFICIALIZARAM LEI PROIBITIVA AO TRÁFEGO DE VEÍCULOS COM TRAÇÃO ANIMAL. CUIABÁ FINALMENTE APROVOU LEI SIMILAR, APÓS LONGO TEMPO DE CRIMINOSO CATIVEIRO ANIMAL…
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Conforme o torturador costume carroceiro adotado no Brasil, cabe ao animal, depois de um longo dia de suplício, imposto por peso descomunal nas costas feridas e muitas chibatadas, buscar algum alimento nas matas ressequidas, madrugada afora. Nem bem o sol desponta no horizonte, já recomeça seu castigo, sem tréguas. Dali, o pobrezinho já sai apanhando forte para imprimir mais velocidade à carroça. Na boleia, o carrasco se sente um rei imbatível, poderoso, disparando chibatadas seguidas. Quem viu algum filme romano, de corridas de bigas, pode ter uma ideia dessa cena…
A baba dos equinos se torna uma espuma espessa à medida que aumenta sua exaustão sedenta, misturando-se ao sangue dos freios cortantes em sua boca. A cada puxão violento dos carroceiros, um novo corte é feito na língua ou laterais. Lá de cima, os torturadores comandam chibatadas e pauladas sem piedade, obrigando esses anjos de quatro pernas a buscarem forças que não têm.
A coisa não para por aí: uma hora, lógico, o animal não aguenta o peso atroz da carga, caindo desastrosamente nas vias públicas. O carroceiro torturador em questão, sem ligar a mínima para quem testemunha seu ato covarde, desce armado com pau e chicote, e passa a desferir golpes ininterruptos no indefeso equino, a fim de obrigá-lo a ter as forças que não dispõe.
Milhares de equinos já foram trucidados sob o olhar cúmplice de dezenas de pessoas, perecendo atrelados ao tronco de escravos (carroça), condenação perpétua. E se sobrevivem a essa jornada torturadora, mais tarde têm um destino ainda pior: são vendidos para matadouros clandestinos e oficiais por uma ninharia qualquer. Nem longe do desgraçado carroceiro deixam de sofrer: nesses matadouros, os pobrezinhos têm suas patas decapitadas com serra elétrica, método utilizado para expedir o odor característico equino, por meio de suor. A agonia dolorosa dessa morte cruel dura quase três horas….
É um fato que, infelizmente, ainda é registrado em centenas de municípios brasileiros, independente de lei proibitiva para o uso de veículos movidos a tração animal. Mas, pelo menos, ao adotar essa proibição exemplar, Cuiabá empreende importante mais um passo em busca da sensibilidade nacional, conclamando a conscientização popular para o drama dos escravos quadrúpedes.
*Resta torcer para que ninguém feche os olhos quando algum carroceiro infringir a lei, denunciando-o de imediato. Basta ligar para o 190, Polícia Militar.
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