Investigações qualificadas do GCCO prendem 89 membros de organizações criminosas em MT

Luciene Oliveira | PJC-MT – Investigação qualificada, monitoramento constante da criminalidade organizada, uso de técnicas e ferramentas de inteligência e capacitação policial, foram os principais fatores que levaram a desarticulação de quadrilhas especializadas em roubos e ataques com explosões e arrombamentos de instituições financeiras, esclarecimento de sequestro, apreensões de armamentos e defensivos agrícolas.

O trabalho, a cargo da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Judiciária Civil, resultou na prisão de 89 criminosos altamente articulados para cometimentos de crimes. São 32 pessoas a mais, em relação a 2016, quando a unidade terminou com 57 presos.

Em 2017, delegados, investigadores e escrivães da Gerência, apoiados de outras unidades da Polícia Civil, cumpriram 121 mandados de busca dentro das operações denominadas: Criminale (roubos a residências, comércios e cooperativa de crédito), Lepus (roubo a bancos), Luxus (roubos e furtos de 10 bancos), Serendipe (extorsão por empresas de cobranças), Senhor das Armas (apreensão de armas), Panóptico (organização criminosa), Ocidente (furto Sicredi Novo Mundo) e  Omega (furto a banco).

O delegado titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado, Diogo Santana Souza, ressaltou que o trabalho tem ênfase nas organizações criminosas. “As grandes operações deflagradas, sete ao longo do ano, foram focadas em roubos e furtos a bancos e caixas eletrônicos, que, atualmente, é o que mais nos preocupa”, afirmou.

O perfil desses grupos criminosos quase não muda e muito menos os objetivos: lucro para alimentar outros crimes como o tráfico de drogas, adquirir armamento pesado para fortalecer outras ações e cooptar novos integrantes, geralmente, jovens de 25 a 30 anos, com histórico criminal, que muitas vezes deixaram recentemente o Sistema Penitenciário.

“São pessoas que já tem histórico, nessa modalidade de crime. Criminosos com passagens pelo GCCO, em roubos e furtos a bancos. Percebemos neste ano, que realmente não houve casos na modalidade Novo Cangaço. Estão explorando mesmo o corte de caixas eletrônicos. Entram de madrugada e fazem o corte ou a explosão do caixa eletrônico”, analisa Diogo.

Entre as operações de 2017, o destaque foi a “Luxus”, realizada em 4 de maio, para  prisão de  17 membros de uma organização criminosa que agiu em roubos e furtos de pelo menos 10 agências bancárias do Estado de Mato Grosso.

Os bandidos promoviam a quebra da parede e o desligamento do alarme de  bancos da capital e do interior. Uma vez dentro subtraiam valores do cofre. As ações foram praticadas, geralmente, aos finais de semana, deixando um rastro de destruição nas instalações físicas das agências e a população sem os serviços bancários.

Somente em dois dos assaltos os membros da quadrilha subtraíram cerca de R$ 2 milhões, que foram ‘investidos’ em veículos (carros e motos) importados, lanchas, viagens e festas. Tudo era ostentado abertamente nas redes sociais. Por conta disso, o nome operação foi chamada de “Luxus”, uma referência a vida de luxo dos criminosos.

Ocorrências

Em 2017, dados da Segurança Pública computaram 16 casos de roubos a banco, divididos em seis roubos consumados, quatro tentativas de roubo, dois furtos consumados, dois furtos tentados, dois roubos com restrição da liberdade, sendo um consumado, também conhecido por “Sapatinho” – modalidade que o gerente e familiares são mantidos reféns para forçar a abertura do cofre e roubo do dinheiro. Não houve nenhum caso na modalidade Novo Cangaço.

Os números diminuíram em relação a 2016, ano que foram registrados 25 ocorrências relativas a furtos e roubos de bancos.

“Na grande maioria não tiveram êxito, nenhum lucro, só o prejuízo financeiro para o banco, do dano causado à agência”, afirmou o delegado. O que observamos mais neste ano foi o furto na modalidade corte e muitas vezes tentado. Fazem um buraco na parede, geralmente, nos finais de semana, tentam o acesso ao cofre, mas por um motivo ou outro não conseguem êxito no dinheiro”, completou.

Operação Ocidente

O titular do GCCO explica que os grupos, mesmo quando os alvos são os terminais eletrônicos, estão se fortalecendo para demonstrar força na ação criminosa, com o objetivo de intimidar as forças de segurança e gerar temor nos moradores, semelhante às quadrilhas do Novo Cangaço.

“Há uma demonstração de força. Essas quadrilhas estão bem armadas. Eles rendem um vigia que está tomando conta do caixa eletrônico, um taxista ou alguém que estiver passando no momento no local. Fazem alguns disparos de arma de fogo para demonstrar força e evitar aproximação de curiosos e da própria polícia, e explodem o caixa eletrônico”, detalhou Diogo Santana.

Neste ano, até 18 de dezembro, foram 14 furtos consumados, 13 furtos tentados, dois roubos consumados e dois roubos tentados contra caixas eletrônicos, número que aumentou em relação a 2016.

Nos casos de explosão, as instituição financeira adotaram medidas de segurança para evitar que os bandidos aufiram lucro. O dinheiro retirado de caixa eletrônico, no momento da explosão é tintado, pouco serve para a organização.

Dinheiro inutilizado

No dia 27 de novembro, durante as buscas para prender o suspeito, Kelves Gonçalves da Silva, acusado de atirar contra o investigador Sidney Ribeiro dos Santos, e participar do sequestro da empresária, Milene Falcão Eubank, em 17 de novembro, na Capital, a Polícia Civil apreendeu cerca de R$ 15 mil, proveniente de explosão de caixas eletrônicos de uma agência na cidade de Arenápolis.

Na ação, um jovem de 20 anos, Carlos Breno Rodrigues de Moraes, com mandado de prisão em aberto por homicídio, foi preso em uma residência no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá. Com ele os policiais civis encontram várias notas de dinheiro, totalizando o valor de R$ 14,8 mil, todas manchadas com tinta.

“Eles até sabem disso, mas se aventuram achando que terão tecnologia para lavar esse dinheiro, mas de fato não é possível, quando usam substância química acaba ficando todo branco o papel moeda fica inutilizado”, salientou o delegado.

Pelo sequestro foram indiciados sete pessoas  nos crimes de porte ilegal de arma de fogo e munições de uso restrito, associação criminosa armada, tráfico de entorpecentes, associação para o tráfico, resistência, tentativa de homicídio, extorsão mediante sequestro, corrupção de menores e receptação. Dois menores também respondem ato infracional pelos crimes.

Monitoramento

As investigações da Gerência de Combate ao Crime Organizado, juntamente com o monitoramento das organizações criminosas desenvolvido pelo Núcleo de Inteligência do GCCO, assim como pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, visam, sobretudo, antecipar ações das organizações criminosas e evitar que o crime seja consumado.

“Procuramos monitorar as organizações criminosas para tentar antecipar e, de forma preventiva, impedir que cometam o crime. Se estivemos com essa quadrilha mapeada e monitorada no momento que percebemos que vão cometer o crime, a gente foca na antecipação para prendermos com arma de fogo, com alguma emulsão, com algum utensílio que consiga vinculá-los a organização criminosa, evitando, assim, que o crime ocorra. Nas hipóteses que não conseguimos evitar, pelo menos, já temos essa organização monitorada para termos uma resposta mais célere”, avaliou  Santana.

Inserido nesse monitoramento, está à operação “Panóptico, deflagrada em setembro para cumprimento de 62 mandados de busca e apreensão, em oito cidades de Mato Grosso. A operação, em caráter preventivo, objetivou coletar dados sobre uma facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios, na prática de diversos crimes como tráfico de drogas, crimes patrimoniais, homicídios e outros.

“A organização visa sempre o lucro, explorando a atividade criminosa, seja qual for, para angariar dinheiro e se articular. Impedindo a organização de auferir lucro estaremos contribuindo para que não se fortaleça”, frisa.

Defensivos Agrícolas

Os defensivos agrícolas são comercializados baseados na cotação do dólar e em 2017 o seu roubo foi bastante combatido pelo GCCO. A diferença neste ano foi apreensão de produtos genéricos ou falsificados, sem os princípios ativos para combater pragas nas lavouras.

Mais 22 mil litros de produtos falsificados foram apreendidos nas investigações da Gerência. “Tivemos ações específicas para defensivos agrícolas, tanto na modalidade roubo, furto, receptação e também falsificação. Este ano tivemos muito defensivos falsificados, que é fabricado fora do estado, sendo revendido aqui”, disse Diogo Santana.

Padronização

O 1º Curso de Operações Antissequestro da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), realizado de 17 de novembro a 1 de dezembro, capacitou 20 profissionais da Segurança Pública e serviu de base para criação do Procedimento Padrão Operacional (POP), da Gerência.

“Levamos muito a sério a capacitação de nossos policiais e também a padronização de nossos procedimentos operacionais para que em situação de emergência, cenário de crise, cada um saiba o que deve ser feito, diminuindo assim o tempo de resposta da ocorrência para toda a sociedade”, disse. “Conseguimos fazer nosso procedimento operacional padrão na área de sequestro, crime organizado e defensivo”, disse o delegado Diogo Santana.

O delegado adjunto do GCCO, Luiz Henrique Damasceno, disse que as diretrizes da Diretoria de Atividades Especiais (DAE) da unidade foram seguidas. “Com devido planejamento, permitindo a elevação do número de prisões de integrantes do crime organizado”, afirmou.

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