Hortência Júlia de Aguiar: Mamãe Noel dos animais!

Mulheres guerreiras não são somente aquelas que empreendem causas pelo bem-estar da Humanidade (referindo-me aqui aos homens), mas também pelos animais, os irracionais, não os insensíveis "seres humanos"; Hortência nos dá bons exemplos disso...

Por João Carlos de Queiroz –  Quem conhece Hortência Júlia de Aguiar há anos, certamente que não estranha suas atitudes, que, à primeira vista, podem parecer rudes, de pouca paciência e evidente hostilidade com papo-furado. Ledo engano tudo que alguém pensar de mal acerca desse ser humano tão especial, detentor de virtudes nobres, de sensibilidade aflorada. 

Hortência, a exemplo do digno Papai Noel cuiabano, Clóvis Matos, também é procedente das boas terras mineiras. Detalhe: as de Mato Grosso também se inserem aí, na qualidade de receptivas, lugar delicioso de se viver. A “brava” mineira tem formação universitária, mas seu talento nato, sem qualquer curso de Gastronomia, é na preparação de doces; confeiteira por excelência…

E enquanto o dedicado Clóvis Mato (ver matéria neste site) se dedica à difusão do prazer da leitura junto à classe comunitária carente, distribuindo livros, sua conterrânea Hortência, do mesmo Estado em que eu também nasci, desenvolve duas atividades distintas: a primeira, na Polícia Judiciária Civil do Estado, onde cumpre funções administrativas; a segunda, no amparo aos animais abandonados que encontra pelas ruas da capital, especialmente gatos e cachorros. São dezenas deles sob sua guarda atenciosa, alimentação, abrigo e cuidados médicos. Quase todo seu salário vai embora aí…

Quem adota e convive com animais, sempre se surpreende com suas doses ilimitadas de amor, sinceridade e perdão
Foto: anda.jorn.br.jpeg

Igualmente simpatizante da causa protetora dos animais, eu conheci Hortência na lida diária com seus bichinhos, alimentando-os carinhosamente numa rua próxima à sua casa (omito o endereço para evitar que espertinhos despejem ninhadas no alpendre). A princípio, ela me direcionou nítido olhar desconfiado, meio ríspido, fingindo não escutar meu lenga-lenga puxa-conversa. Depois se abriu, mais confiante…

Tornamo-nos, então, bons amigos, solidários à proteção dos inocentes seres de quatro ou duas pernas, que muitos tacham de irracionais, sem perceber que eles, os bichos, são superiores – em muito – ao monstro-homem. 

E agora, no Natal, novamente encontro Hortência a pé nas proximidades do Verdão (única dica possível), arfante sob o peso de várias sacolas. Nem carro ela tem; já teve um Monza, vendido para pagar dívidas contraídas com a aquisição de ração e atendimento veterinário dos animais que recolheu.

Não por ser amigo pessoal de Hortência, mas por conhecer sua luta, sua integridade moral, e, principalmente, seu coração gigantesco, essa cena, já visualizada várias vezes, sempre me comove. Hortência, nos últimos anos, mal consegue andar direito, coluna semi-travada e um dos braços igualmente comprometido por irreversível artrose. Para abrir os dedos da mão, muita dificuldade dolorida…

No entanto, ignorando os próprios entraves físicos, e focada apenas em alastrar amor aos animais, socorrendo-os nas mais diversas situações ingratas, a maioria dela impostas pelo homem, Hortência continua a atravessar os anos nessa persistente missão caridosa.

Seu tempo de hoje, torna-se visível a um mero olhar ao físico envelhecido, porém determinado, é o mesmo da pertinaz luta de proteção aos animais, desenvolvida durante dezenas de anos. – A gente, quando vai envelhecendo, perde grande parte dos movimentos. Não ligo, pois isso faz parte da vida – diz conformada.

Hortência adiantou que irá passar o Natal sozinha, na tentativa de driblar a frequência das dores da artrose que a persegue. “Quanto mais ficar quietinha, no meu canto, melhor. Só vou sair mesmo pra dar de comer aos animais. Já vou sair agora, pois vai chover, céu bem escuro, trovejando… É difícil andar com tanta ração nesses quarteirões, pesa muito”, comentário sem alarde da queixa.

Nesse vai e vem missionário, fico imaginando a falta que um carro não faz para alguém imbuído de tanta boa-intenção. Revolto-me ao pensar nos corruptos que roubaram – e ainda roubam a Nação -, sem punições merecedoras de tranca, refestelados em veículos luxuosos, invisíveis aos comuns mortais pelas películas escuras dos vidros…

Sujeitos esquivos nas sombras, penso eu, preocupados apenas em disfarçar a roubalheira espúria, enquanto uma senhora digna, trabalhadora, assume responsabilidades que simplesmente poderia nem querer pensar, mas faz! E cumpre isso dignamente, todos os dias, num desafio ao tempo {esgotado} de cessão de forças físicas…

Hortência, acreditem, já foi até assaltada enquanto alimentava seus bichinhos, altas horas da noite; único tempo que sobrou no regresso de suas rápidas viagens. Isso aconteceu nos primeiros anos; depois que a viram numa viatura da Polícia Civil, no banco da frente, o temor dos malandros à simples aparição da sistemática senhora e suas sacolas se tornou temor geral…

Deixo aqui minha singela homenagem à amiga Hortência, na torcida para que seu atual sorriso triste, conformado, tenha amplitude feliz no próximo ano. E que alguém, ou algo, aconteça de muito bom em 2018, auxiliando-a a sequenciar essa jornada de carinho salvador pelos animais.

Conforme ela sempre diz, “são anjos terrestres, de espécies e formatos distintos”. Eu concordo, mas complemento: “São anjos, sim, só que amparados por um outro anjo na Terra, disfarçado de humano; mulher provida de forças jovens e em passos lentos, de cândido conformismo à ação do tempo. Assim é Hortência!

 

 

 

 

 

 

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