“Fazer mestrado é meu maior presente natalino”, afirma deficiente visual do Legislativo de Cuiabá
Cego há anos, o jovem Odenilton Júnior, técnico de Informática, se prepara agora para fazer Mestrado em Ciências Naturais pela UFMT, após ser aprovado em exigente baterias de testes escrito/oral. "Papai Noel existe, mesmo", diz otimista
Enxergar nitidamente não é privilégio de todos os humanos, pois alguns detêm deficiências que impedem o descortinar de luzes e as realidades mundanas postas à frente dos seus corpos. “Mas isso não é impeditivo para enxergarem um futuro sem nenhuma escuridão”, garante Odenilton Júnior Ferreira dos Santos, 34, lotado no Setor de Informática da Câmara Municipal de Cuiabá. Ele é um dos aprovados no Processo Seletivo de Mestrado em Ciências Naturais instituído pela Universidade Federal de Mato Grosso. “Logrei passar nas duas fases, provas escrita e oral. Foi uma disputa dura, porém valeu a pena. De agora em diante, resta desenvolver o projeto de pesquisa que tenho em mente. O objetivo é estabelecer intercâmbio entre o uso de tecnologia assistiva, voltada a pessoas com deficiências. Enfim, vou trabalhar neste projeto nos próximos dois anos, focado em facilitar o ensino de Ciências Naturais a deficientes visuais. Meu trabalho se concentrará na área de Biologia, ainda que Ciências Naturais também abranja Química e Física”.
Odenilton é casado com Carla Magna Moura da Silva, mãe de Rita de Cássia, 18. “Minha enteada é a filha que qualquer pai gostaria de ter. Elas duas se constituem em tesouros de minha vida. Agora, meu presente natalino foi ser aprovado e poder fazer Mestrado, era meu sonho”. Ele tem formação em Análise de Desenvolvimento de Sistemas, e ingressou na Casa de Leis da capital em 2012, por meio de concurso público. “Sou um servidor de carreira tranquilo. Ocupei este espaço à custa da minha determinação de não permitir que a deficiência visual toldasse também meus projetos de vida. Aliás, continuam firmes, emoldurados a cada amanhã”. Odenilton afirma assim se sentir feliz, independente das limitações impostas pela deficiência. “Não que a cegueira seja algo fácil de driblar”, observa, mas consigo fazer praticamente tudo que os não desprovidos de visão realizam no dia a a dia, valendo-se da tecnologia de ponta. Os demais companheiros da equipe de Informática endossam suas palavras.
Colega de setor de Mauro Germano de Oliveira. 45, igualmente concursado e deficiente visual, Odenilton comenta que ambos têm consciência de que a vida é muito mais importante do que eventuais barreiras físicas que se interpõem no caminho existencial. “O ato de viver é uma dádiva que devemos agradecer continuamente. Problemas, sejam quais forem, sempre existiram e vão existir, podendo ser superados se houver determinação maior, ou seja: não devemos aceitar que algum imprevisto sirva como atestado de desistência, nada disso. O contrário é que deve prevalecer, instrumentando-nos para ir com força redobrada em busca de nossos objetivos. E cada vitória tem um sabor duplamente recompensador, é fato comprovado a cada passo evolutivo”.
Por sua vez, Mauro Germano, que cursa Gestão Pública pela Universidade Paulista, ex-aluno de Pedagogia, estendeu parabéns à vitória universitária do colega de setor. “Ele é merecedor desta importante conquista no seio acadêmico. Conheço um sem número de pessoas que sonham em ter um diploma de Mestrado em mãos, mas não conseguiram isso até hoje. Não é uma empreitada fácil: é preciso dispor de conhecimento e muita competência”. Mauro Germano, mato-grossense de Acorizal, casou-se com a cuiabana Ellen de Souza, e também é elogiado pelos colegas por suas atitudes idealistas, como se a cegueira inexistisse. “Por enquanto não temos filhos. O futuro a Deus pertence, diz um ditado. Vamos aguardar, e continuar lutando firmes”.
Ambos os servidores do Legislativo elogiaram a adequação (piso tátil direcional) feita em vários ambientes da Casa de Leis para facilitar a acessibilidade de deficientes visuais. “Nós nos deslocamos dentro do Parlamento sem maiores dificuldades, pois já somos conhecedores de todas as repartições aqui existentes. Porém, para os deficientes visuais visitantes, já fica difícil essa locomoção. É um dispositivo que deveria existir em todas as repartições públicas e privadas, reivindicação de toda a categoria de deficientes similares”.
João Carlos de Queiroz – Secretaria de Comunicação Social – CMC
Comentários estão fechados.