“Só levei cuecas e roupas de cama para o sítio de Atibaia”, diz Lula

Ex-presidente alterou o tom de voz ao ser inquirido sobre a reforma no sítio e o que teria levado para lá. Ironizou algumas colocações da juíza Gabriela Hardt e da promotoria e foi advertido por várias vezes

Redação Site –  Viu-se ontem, 14, por quase três horas, um ex-presidente acabrunhado, com olheiras escancaradas, cabelos branquíssimos. Também a postura diante da juíza que o interrogava estava incômoda, fato evidenciado por contínuos movimentos na cadeira. Lula ainda emitiu voz cansada e em tons graduais durante o depoimento, por vezes ininteligíveis, protagonizando inquietude patética. Intercalou olhares dispersos no todo do ambiente judicial e deu a impressão de “estar e não estar ali”. Parecia estranhar tudo.

São reflexos nítidos do confinamento de meses na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, analisaria qualquer psicólogo. Cadeia é um lugar predestinado a formar loucos, e o próprio Lula, em determinado trecho do seu depoimento, insinuou o sofrimento que o cárcere impõe ao ser humano. Tanto que não se viu ali o conhecido líder partidário altivo e admirado, conforme o Brasil e o mundo todo testemunharam durante décadas, mas, sim, um homem condenado, desesperançoso.

Pela forma áspera e impaciente com que tratou alguns questionamentos da juíza e da promotoria, Lula deixou claro ontem que expurgou do seu comportamento qualquer ética em questionamentos similares. Fez referência velada de suposta amizade do juiz Sérgio Moro com investigado da PF, e indagou da juíza se ele era ou não dono do sítio em Atibaia. Lula também reafirmou ter levado para o referido sítio apenas o essencial para passar a noite, “cuecas e roupas de dormir”, não bens pessoais, conforme foi acusado.

A juíza Gabriela Hardt foi determinada ao avisá-lo que estava se excedendo nessas colocações, e salientou que poderia ter problema se persistisse em tal comportamento. A defesa saiu em seu socorro (alegando “o direito à presunção de inocência”) quando a juíza oficializou novos avisos para ele maneirar suas colocações relacionadas à promotoria. A magistrada entendeu haver aí clara manipulação de Lula direcionada aos filiados do PT.

“Cuecas e roupas de dormir eu tenho em qualquer lugar para onde vou. Outra coisa: nenhum empresário pode afirmar que aquele sítio é meu” – declarou Lula

Lula ainda rebateu a acusação sobre a propalada reforma: “Engraçado alguém fazer uma obra que não pedi e depois negociar uma delação, sob pressão de que é preciso citar o Lula; e vocês (Justiça) colocam isso como se fosse uma verdade”, desabafou o ex-presidente. Deu sequência a questionamentos sobre possíveis erros processuais que o condenaram, momento em que elencou a fragilidade da acusação, inexistência de provas materiais.

Sombra de um homem que brilhou…

O Lula de ontem era um cidadão comum; tanto que a escolta para levá-lo à Justiça Federal foi um terço da que o conduziu à carceragem da PF há meses atrás, precisamente no dia 7 de abril. Também não se viu massa popular acirrada em sua defesa pelas ruas de Curitiba, apenas esporádicas manifestações de apoio. Da mesma forma tranquila com que se dirigiu à Justiça Federal, o ex-presidente retornou à sua cela após a conclusão do depoimento desse novo processo.

 Pelo primeiro processo, referente ao apartamento tríplex do Guarujá (SP), Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão, crimes configurados de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Uma nova condenação pode ampliar ou até mesmo duplicar essa primeira pena. O caso segue agora os ritos processuais comuns.

 

 

 

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