Mais dois terreiros de candomblé são tombados pelo Iphan
Os terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão, em Recife (PE), e Tumba Junsara, em Salvador (BA), passaram a ser, nesta quinta-feira (17), Patrimônio Cultural Material do Brasil. Eles se juntam a outros nove terreiros que foram tombados anteriormente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão foi um dos primeiros terreiros de Xangô em Pernambuco. A casa teria sido fundada em 1875 por Ifátinuké, que também atendia pelo nome de Inês Joaquina da Costa, ou Tia Inês, uma nigeriana originária da cidade de Oyó, que veio para Pernambuco junto com seu companheiro João Otolú e outros negros africanos. Ao comprarem as terras onde hoje se encontra o terreiro, deram origem à casa de culto, inicialmente chamada de Obá Omi, que segundo o sacerdote atual, Manoel Papai, também significa Iemanjá.
O Sítio de Pai Adão funcionava também como instância consultiva em casos complexos enfrentados por alguns maracatus da região. Além disso, possuía vínculos com muitas escolas tradicionais de samba e agremiações de frevo cujos carnavalescos são ligados aos terreiros de Xangô, Jurema e Umbanda, fazendo uso comum de práticas próprias de religião dos Orixás.
O terreiro possui uma relevância histórica para compreensão das religiões de matrizes africanas no Brasil. Todo local remete a um ambiente rural que remonta ao início da ocupação do bairro de Água Fria, inicialmente conhecido como Beberibe de Baixo.
O Terreiro Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão recebe este nome em homenagem a um de seus sacerdotes. Pai Adão foi um dos maiores propagadores do nagô pelo Recife (PE), ajudando a fundar outros terreiros e tornando-se referência na cidade. Em função disso, gozava de grande estima e respeito da parte dos intelectuais que pesquisavam sobre os Xangôs de Pernambuco.
Muitos dos seus conhecimentos serviram de embasamento para pesquisadores locais e para textos clássicos de Gilberto Freyre, Gonçalves Fernandes, Waldemar Valente e René Ribeiro, expoentes da intelectualidade pernambucana e estudiosos dos candomblés da região.
Pai Adão ostentava o orgulho e o conhecimento de um grande sacerdote, destacando-se entre as demais lideranças de terreiros do Recife, dos quais detinha grande respeito. Lidava em pé de igualdade com os cientistas e pesquisadores que o procuravam. Tornou-se assim, a maior referência na história do Xangô pernambucano.
A relação de Pai Adão com outros terreiros em geral foi notória. Seu terreiro ainda hoje é citado como referência em termos de história do Xangô, das tradições nagô e de muitas das tradicionais agremiações de carnaval, frevo e maracatus de Recife e de Olinda. Na zona norte de Recife, onde se concentram muitas agremiações de Maracatu Nação, era tradição os grupos fazerem passagem pelo Sítio de Pai Adão ao longo do percurso, que se fazia a pé até o centro da cidade ou aos palanques no período do Carnaval.
O falecimento de Pai Adão, em 1936, teve grande repercussão na cidade do Recife. Seu velório contou com a presença e estima de centenas de pessoas, de diferentes classes sociais, tendo sido largamente noticiado pelos principais jornais do estado.
Tumba Junsara
Legado, resistência e religiosidade compõem a essência do Terreiro Tumba Junsara, em Salvador (BA), que está entre os mais antigos de tradição Angola no Brasil. Fundado em 1919 pelos irmãos Manoel Rodrigues e Ciriaco, o Terreiro de candomblé, de tradição angola, faz da milonga (mistura) um caminho para manter suas referências culturais. Uma característica da Nação Angola, por exemplo, é a presença de um culto específico em reverência aos ancestrais indígenas.
Em 1919 o Tumba Junsara estava em Acupe, município de Santo Amaro (BA). Logo após a fundação, o terreiro teve que ser transferido para Pitanga, também em Santo Amaro e depois para Beiru, em Salvador. Em 1920 mudou-se para a Ladeira do Pepino, próximo ao Engenho Velho de Brotas e, em 1938, passou a ocupar o endereço atual, na Ladeira da Vila América. Tumba Junsara está em uma região de Salvador que concentra vários terreiros, entre eles alguns já tombados pelo Iphan, como Oxumaré, Gantois e Alaketo e Casa Branca.
Assentamentos, moradias, barracão, mata e uma fonte de água é a estrutura atual do terreiro. A Fonte Dandalunda recebe quem entra no terreiro. Bem no meio está a moradia principal e mais antiga, que antecede o quarto do segredo, Lemba Oxalá. A cozinha da residência é também a cozinha sagrada. A mata reduzida é formada por pés de nativo, jurema, bambu, obi e akokô, que têm uso medicinal em rituais, alimentar e paisagístico.
A Casa reproduz em seu território as estruturas litúrgicas e mundanas necessárias para a tradição, o espaço mato e o espaço construído, que juntos, formam uma área sagrada. A comunidade do Terreiro Tumba Junsara abraça as tradições e se reinventa como culto.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Ministério da Cultura
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