CAUSOS DA ROÇA”: assombrações mineiras…

Por João Carlos de Queiroz – Mineiro gosta de contar “causos” de assombração. Lá pelas bandas do antigo distrito de Pires e Albuquerque, elevado à condição de município, de há muito denominado Alto Belo, aconteciam coisas bem estranhas, a maioria delas ligadas ao mundo sobrenatural.
 
No próprio povoado de Pires, os moradores não duvidavam da presença intrusa de lobisomens durante a Quaresma. Ninguém se atrevia a andar perto de encruzilhadas durante esse período, pois as chances (de dar de cara com algum homem-lobo) eram grandes. 
 
Inclusive, suspeitava-se que um sapateiro local, esquelético e pálido, face variolada, fosse o próprio. O sujeito sumia por ocasião da Quaresma, e há quem jure tê-lo visto rolando num chiqueiro de porco à meia-noite, típico ritual de transformação. Metamorfose arrepiante, em todos os sentidos. Dali, já saía uivando alto, pronto para atacar alguém…
 
O sinistro sapateiro, contava meu pai, chegou a anunciar que era mesmo lobisomem, mas só atacava animais pequenos, principalmente carneiros e bezerros. Nem fazia questão de manter segredo a respeito disso, apesar de sitiantes locais andarem se queixando de perdas frequentes no rebanho.
 
Uma das qualidades do tétrico sapateiro, já provada, era “transferir” cobras de uma propriedade para outra, apenas com rezas. As gosmentas atravessavam rápidas a estradinha de terra batida. Um fazendeiro o denunciou após ver suas terras infestadas por dezenas de répteis. Mas a Polícia não localizou o sapateiro, simplesmente não conseguiu vê-lo. E ele ficou o tempo todo ao lado da viatura, sorridente, desafiador…
 
Esse sapateiro era ainda chamado de macumbeiro e outros adjetivos não necessariamente elogiosos. Meu velho dizia que o melhor era evitá-lo. Afinal, dele nunca saía nada de bom…
 
“Ele quase matou de susto um dos moradores de Pires, que duvidou disso. O lobisomem o aguardou então numa encruzilhada, olhos flamejantes, vermelhos. O pobre quase borrou as calças ao ouvir o imenso lobo dizer: “Já deve ter me reconhecido, vizinho. Sou eu mesmo!”
 
Outro lobisomem fez as águas do Rio Verde borbulharem à sua volta ao atravessar o manancial durante a madrugada. Ocasião em que deu de cara com Ambrósio, sitiante local, que retornava de festa. “Por pouco a coisa não o atacou. Só não partiu pra cima porque Ambrósio manteve o facão preso na boca, atravessado. Os dentes até rangiam por causa da pressão. Lobisomem tem pavor de facão”, também contava meu velho.
Ambrósio é o mesmo sitiante que, sob ventos noturnos fortíssimos, foi desenterrar um pote de ouro e se viu às voltas com um bando de aparições. Isso aconteceu depois que um amigo falecido veio visitá-lo, oportunidade em que disse que somente ele poderia retirar o pote da barriguda, árvore imensa, situada nas imediações da sede do sítio.
Ambrósio não cumpriu as regras do acordo sinistro e pediu ajuda ao mascate Domingos. A alma amiga não gostou e revidou com show fantasmagórico. Ambrósio viu até porcos subindo em árvores e se mandou do lugar, gritando de pavor. Conto o resto depois…

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