Malheiros diz que “meio ambiente precisa ser olhado com atenção de pai para filho”
"Posso assegurar que, momentaneamente, falta quase tudo, infraestrutura comprometida por falta de incentivos, verbas. Então, o meio ambiente agoniza à vista geral, simplesmente entrou num compasso irreversível de morte"
O presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, Justino Malheiros, do Partido Verde, disse hoje (4) que é preciso empreender mais ações focadas na resolutividade de demandas ambientais, principalmente em relação à crescente poluição do Rio Cuiabá e suas consequências desastrosas à região pantaneira. Conforme o dirigente da Casa de Leis, as iniciativas até agora levadas a efeito não resultaram num terço das metas que seriam ideais para promover equilíbrio real e garantir com que a depredação ambiental não se torne um dos símbolos de um Estado predominantemente verde.
SECOM – O senhor é do Partido Verde, que defende a bandeira ambiental. Em se tratando de projetos de lei voltados à área, considera que houve algum avanço nesse sentido?
Malheiros – Mais importante é ter consciência de que pouco está sendo feito para conter a crescente devastação que a natureza sofre em setores distintos, e aqui não falamos apenas do perecimento de importantes mananciais do Estado, em si, mas também de grande parte de nossas florestas. Logicamente, o Partido Verde, ao qual estou integrado por idealismo e comprometimento de trabalhar pela proteção ambiental, tem atuado de forma assídua no âmbito fiscalizatório e de cobranças à implementação de políticas públicas capazes de conter esse ritmo de degradação generalizada do meio ambiente. No Legislativo, já concebemos projetos e outros dispositivos que tentam chamar a atenção da sociedade para o extermínio desse segmento tão importante e mesmo imprescindível à vida.
SECOM – Falta exatamente o quê?
Malheiros – Posso assegurar que, momentaneamente, falta quase tudo, infraestrutura comprometida por falta de incentivos, verbas. Então, o meio ambiente agoniza à vista geral, simplesmente entrou num compasso irreversível de morte. E todos nós assistimos isso de forma passiva, por vezes cúmplice, quando “contribuímos” para disseminar algum tipo de destruição. Grande percentual dos brasileiros não tem essa visão, e é preciso disponibilizar instrumentos que facultem maior conscientização, a fim de que cada um se torne franco protetor da causa ambiental. Porque, se todo mundo achar que pode jogar garrafas pets e até sofás nos rios, vai ficar difícil reverter essa tendência de descarregar, no Poder Público, a responsabilidade de resolver todos os problemas ambientais.
“Quando se fala em meio ambiente, estamos falando de vida, todas as espécies vivas do Planeta. Cabe essa reflexão e preocupação geral, para que a natureza sobreviva esplendidamente, como sempre deveria ser a realidade. Nós dependemos dela”
SECOM – Algum projeto breve para que algo do tipo seja desencadeado aos olhos dos munícipes?
Malheiros – Via Câmara, já temos planos, sim, e devem ser viabilizados brevemente. Mas, para que eles se tornem referencial de uma solução ideal, é preciso unificar parcerias com real comprometimento ambiental. Os vereadores não têm poder executor, mas legislador, de fiscalização. É o que temos feito e vamos continuar fazendo. Minha missão ambientalista, de partidário de uma agremiação que trabalha para que o verde não se torne somente registros fotográficos e lembranças saudosas da população, é voltada ao esclarecimento e incentivos para a sociedade se unir à bandeira ambiental. Ninguém deseja que o verde atual se transforme num deserto de martírio para os elementos vivos do Planeta, envolvendo, lógico, o todo da população mundial, não necessariamente apenas Mato Grosso ou o município de Cuiabá.
SECOM – Então, a Câmara irá às ruas em campanhas voltadas à preservação do meio ambiente…
Malheiros – Na realidade, cada dia que passa temos feito isso, seja por meio das sessões plenárias, quando denunciamos abusos ambientais, lixo, fogo, etc., e também nas reuniões das comissões interligadas ao tema. A natureza está integrada a tudo que fazemos. Não há como desenvolver nada numa sociedade se o meio ambiente estiver desequilibrado, ou até pior: condenado por uma série de fatores. Volto assim à necessidade de que a consciência populacional se torne a cortina defensiva entre a destruição em curso e os meios que podem ser empregados para que a natureza aconteça de modo saudável para as próximas gerações. É fundamental plantar sementes hoje para que não possamos lamentar o amanhã.
“São Paulo já gastou bilhões na tentativa de recuperar o Rio Tietê, sem o menor êxito nessa empreitada. O Rio Cuiabá trilha idêntico caminho de destruição. E se não houver mobilização de socorro emergencial, será o “nosso Tietê”, sim!”
SECOM – Vamos falar sobre o Rio Cuiabá, que já registrou uma degradação enorme nas últimas décadas. Mais pelo esgoto “in natura”, associado a outras ações descomprometidas com a preservação ambiental. O senhor vê chances de o Rio Cuiabá não se tornar um “Tietê cuiabano”?
Malheiros – A situação do Rio Cuiabá é tema frequente de qualquer debate que envolva a área ambiental, pois está interligada à própria subsistência da fauna e flora pantaneiras. Até mesmo do próprio homem, tendo em vista a quantidade de ribeirinhos que sobrevivem da pesca em vários municípios cortados pelo manancial. Então, se o Rio Cuiabá levar lixo abundante a tais lugares, naturalmente que suas águas poluídas se tornarão impróprias para consumo e um tanque assassino para quantas espécies ali ainda sobrevivam.
SECOM – Parece que o Rio já demonstra perda de fôlego, sinalizando estar morrendo…
Malheiros – O Rio Cuiabá já foi suntuoso para o trânsito de grandes embarcações. Agora, uma mera canoa pode esbarrar em lixo em todo o seu curso. No Porto, já chegou a cortar anos atrás, algo que ninguém pensava que pudesse um dia existir. A antiga fartura de peixes cedeu lugar à carência que os pescadores têm se queixado diariamente. Não tem sido rara, aliás, a mortandade de peixes nas proximidades de Cuiabá e Várzea Grande, fenômeno igualmente registrado no Pantanal. A carga poluidora está asfixiando peixes e dizimando qualquer expectativa de que o Rio Cuiabá possa representar, futuro afora, numa alternativa de subsistência para homens e animais. Pois temos também fazendas que utilizam suas águas para manutenção diária das criações. Assim, volto a enfatizar: as ações precisam acontecer a partir de ontem, não serem postergadas para futuro incerto, visto que incorreremos em riscos de não ter mais nada para salvar. E o Rio Cuiabá, segundo suas palavras, já estaria mesmo numa situação irreversível de morte, a exemplo do Tietê paulista…
“Não pode ser descarregado nos ombros do município (Prefeitura) a missão de salvar o Rio Cuiabá e afluentes da destruição. É preciso envolver gestores governamentais de outras esferas superiores, incluindo nossa bancada federal”
SECOM – E o tratamento de esgoto, não é responsabilidade do município?
Malheiros – O município (Prefeitura) trabalha com base nos recursos disponíveis para investimentos no setor. O fato é que as estações de tratamento de esgoto, no caso específico desse setor (ETE), representam pouco para as soluções do que o Partido Verde entende como problema grave, e que podem ser efetivadas. Só para se ter uma ideia, menos de 24% do esgoto coletado em toda Cuiabá é tratado, o restante vai tudo para o leito do Rio Cuiabá. E falo apenas da capital, e aí entram Várzea Grande e outras cidades ribeirinhas, próximas ao Pantanal. O rio já não agüenta esse descompromisso por parte de quem tem algum poder de protegê-lo e minimizar essa artilharia nociva. Refiro-me aos órgãos federais, que deveriam direcionar recursos para suprir programas ambientais que poderiam desenvolvidos pelo Estado e municípios mato-grossenses. Sozinhos, desguarnecidos de retaguarda financeira, iremos avançar timidamente, e o poder destruidor será superior à vontade de proteger nossos recursos naturais, como um todo.
“Houve um tempo em que a população de Cuiabá sonhou com a universalização dos sistemas de distribuição e tratamento de água (ETA) e esgoto (ETE), em face dos projetos do PAC, idos de 2007, desenvolvidos pela antiga Sanecap. Algo chegou a ser feito, mas a universalização não se concretizou”
SECOM – Então, pelo que expôs, cabe à ala federal maior interesse pelo saneamento básico…
Malheiros – O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento prevê injeção de recursos também nesse setor. O PAC envolve habitação, e retira famílias de áreas de risco, alojando-as em novos domicílios. Inclusive, temos projetos do PAC no município cuiabano, alguns paralisados por falta de gerenciamento técnico numa gestão anterior. A gama de recursos que poderia ter sanado esse quadro desolador na área de saneamento básico, universalizando o sistema, o tratamento de esgoto, praticamente foi perdida, retornando às suas origens, na época. A gestão municipal tem mobilizado diligências para retomar esses projetos do PAC, a exemplo do que acontece em Várzea Grande, que conseguiu resgatar integralmente o PAC e já está com uma série de projetos em fase de viabilização. Recentemente, adquiriram equipamentos que serão empregados nas unidades de tratamento de esgoto e água.
SECOM – O município de Cuiabá falhou no cumprimento das regras estabelecidas pelo programa federal, então…
Malheiros – O PAC é criterioso, exige o cumprimento de regras básicas. É realmente complexo destrinchar essa rede que foi deixada toda embaralhada por gestores do passado, que não tinham a ótica ambiental como prioridade do seu trabalho. O Meio Ambiente (Prefeitura) tem tentado isso atualmente. Porém, sem uma contrapartida de apoio compatível à importância dos projetos, fica difícil conseguir êxito. Temos que envolver, principalmente, toda a bancada federal, via emendas parlamentares e cobranças, para detonar com uma campanha maciça de salvamento dos mananciais que abastecem nosso Estado. Cáceres registra problema semelhante com o antes majestoso Rio Paraguai, hoje assoreado e em fase de visível sobrecarga poluída.
SECOM – Sente-se frustrado por não poder fazer mais do que desejaria, presidente?
Malheiros – Muito, muito… Não é fácil para alguém que tem militância ecológica, dentro de um partido voltado a trabalhar pela preservação ambiental, ver o desmonte de tantas riquezas naturais por mera irresponsabilidade de gestores e de parte da população. Conheço gente em Cuiabá que joga lixo na rua, achando que a Prefeitura vai promover a coleta de dejetos dentro de minutos. Aí, vêm chuvas e esse lixo cai nas galerias pluviais, dali indo direto para o Rio Cuiabá e outros mananciais. Falta esclarecer essas pessoas algo óbvio: estão contribuindo para o assassinato da natureza. Se lançarem um cigarro fora do carro, ele pode se constituir em pavio de incêndios monstruosos. Um simples chiclete é danoso à vida: algum pássaro desavisado pensará que se trata de miolo de pão, e aí morrerá asfixiado. E se tem filhotes à espera de alimento, esses também morrerão. Uma cadeia destrutiva…
SECOM – Uma última pergunta: agora que as chuvas terminaram, qual é a preocupação do Partido Verde?
Malheiros – As nossas preocupações se resumem a tudo isso que falei, porque o fim do ciclo chuvoso significa o estabelecimento da seca e, consequentemente, maior probabilidade de incêndios florestais e nas áreas urbanas. É mais um agravante que a natureza sofre, e que poderia ser minimizado numa cruzada do bem para preservá-la. Infelizmente, é sabido, o homem é o principal responsável pelas intempéries que enfrenta no mundo inteiro, resposta da natureza ao desequilíbrio de suas atitudes criminosas e inconsequentes.
Secretaria de Comunicação Social – CMC
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