Produtores de suínos temem canibalização por causa da fome dos animais. Já não há suprimentos e porcos famintos demonstram alta agressividade
Um dos quadros mais terríveis ocasionado pela greve dos caminhoneiros - estranhamente apoiada pela população, que tem comido o pão que o diabo amassou - é a canibalização que pode ocorrer entre suínos famintos. Alguns produtores dizem que seus animais não têm ração há dias, e, em função da fome, já demonstram agressividade.
Redação Site – A greve dos caminhoneiros está expondo novidades que não são do agrado de ninguém. Uma das mais terríveis é a canibalização entre suínos famintos, quadro conhecido {e temido} por produtores do setor. Em várias propriedades mato-grossenses de suínos, já falta ração básica para alimentação dos animais, que somam dezenas de milhares. A previsão dos produtores, diante da hostilidade já demonstrada por vários lotes de porcos famintos, é que eles iniciem o processo de canibalização nos próximos dias, o que equivale a linchamento grupal.
Os produtores têm acompanhado apreensivos essa movimentação rebelde. Informaram que os suínos, acostumados a se alimentar continuamente, sempre perdem o controle quando falta alimento, tornando-se altamente agressivos. E se não há ração no ambiente onde estão confinados, então a matança que promovem entre si é a alternativa instintiva dos animais. “Eles destroçam os próprios companheiros em questão de minutos, devorando-os rapidamente. É uma cena arrepiante de se ver”, disse um produtor.
Com essa paralisação gigantesca, que colocou o Brasil inteiro na condição de refém dos caminhoneiros, as ferrovias têm sido lembradas como moldais alternativos para resolver a logística do transporte, principalmente de cargas.
Todos têm encontrado dificuldades para reabastecer seus estoques de ração suína. Mesmo outras opções alimentares para os animais estão difíceis de serem encontradas. Ou, quando existem, são insuficientes para a demanda das propriedades.
Situação parecida acontece com os avicultores de MT e de outras regiões do País: milhares de aves já pereceram por falta de alimento. Alguns produtores, como aconteceu na Bahia, preferiram doar seus animais para consumo da população, ao invés de permitir que as aves morressem de inanição.
Não é apenas para os suínos que estão faltando alimentos, mas para a população mato-grossense e brasileira, em geral. O que acontece em Mato Grosso tem se repete em todos os estados, áreas urbanas e rural. Visão da realidade nacional desde que os dias de greve dos caminhoneiros impuseram desabastecimento geral.
Produtos hortifrutigranjeiros também estão faltando nos supermercados mato-grossenses, e 80% dos frigoríficos do Estado já paralisaram. Num frigorífico em Várzea Grande, os abates foram interrompidos, e os prejuízos de unidades semelhantes registram rombos milionários.
Se a greve continuar até a próxima segunda-feira, a paralisação dos frigoríficos em MT (e Brasil afora) será geral, avisam os empresários do segmento. Sem contar o que pode acontecer em face do desabastecimento. Se os suínos optam pelo processo de canibalização quando estão no desespero da fome, não podemos nos esquecer que os homens também se transformam em canibais numa situação parecida. Isso aconteceu quando um avião caiu nos Andes, muitos anos atrás, e as vítimas fatais do acidente serviram de almoço e jantar dos passageiros sobreviventes.
Por João Carlos de Queiroz
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