“Senão o Natal não vem…”

Por João Carlos de Queiroz, jornalista – Já faz um punhado de anos, e eles transcorrem rápidos, redigi um artigo no jornal ‘Folha do Estado’, em Cuiabá. Todos nós, jornalistas editores, tínhamos a incumbência semanal de escrever um artigo, fazia parte das obrigações. O bom disso é que podíamos discorrer sobre qualquer coisa à vontade, até mesmo para falar de romantismo, amor, etc… Lógico que alguns textos de colegas foram vetados, por abordarem temas controversos e de complexidade comprometedora ao nome do jornal.
Naquele dia, quando me cobraram o artigo, pensei em falar acerca do Natal, em face da proximidade da data religiosa. Nada a ver com as áreas que editava no jornal, suplementos de Veículos e Agropecuária. Não sei se posso dizer assim, mas foi quase uma inspiração natalina, e o título surgiu então fácil, a exigir maior conteúdo.Foi baseado numa frase dita pela minha filha Pollyanna, à época ainda criança, que repudiou os vários contratempos expostos sobre as dificuldades das pessoas em ter um bom Natal.
Para qualquer criança, Natal é data máxima de folguedos, sonhos, realizações, Papai Noel… E se os adultos se interpõem a isso, naturalmente que elas ficam revoltadas. Pollyanna deve ter sentido alguma ameaça na “vinda” do Natal, pois gritou repentinamente para pararmos de falar coisas ruins sobre a data. Depois, mais calma, olhando-nos fixamente, ela disse: “Senão o Natal não vem”, frase que repito neste novo texto.
Sinto-me novamente à vontade, aliás, para voltar ao dito tema, pois o Natal está bem aí, a poucos dias, ainda que as perspectivas não sejam promissoras, pelo contrário: são desestimulantes aos cidadãos explorados pela corrupção vigente e revoltados com a impunidade dos quadrilheiros políticos e não políticos desse território tropical. Se fosse ainda criança, Pollyanna diria enfática: “O Natal não vem mesmo!” O “senão” anterior, dito por ela há muitos anos, por ora está descartado, pois os gigantes corruptos sempre conseguem realizar qualquer façanha, até mesmo um Natal de mentirinha…
Num País em que o Congresso Nacional está carcomido de lideranças (não se sabe de quê) corruptas ao extremo, com acusações de toda ordem, incluindo o staff presidencial e o próprio chefe da Nação, fica cômico dizer que o povo brasileiro terá um bom Natal em 2017, e na virada do ano, rumo a 2018, a plena concepção de tudo aquilo que imaginou de bom pra si e seus familiares. Uma piada sem-graça, isto, sim!
Entra nessa ordem ilógica a determinação dos congressistas em detonar com a vida dos brasileiros assalariados. Querem aprovar, a todo custo, a Reforma da Previdência, sob a argumentação esdrúxula de que representa “o melhor” para todos, quando o déficit da Previdência Social não chega a um terço dos bilhões sugados pelos corruptos oficiais durante anos e anos. Ou seja: o governo quer que o povo pague a conta da ladroagem bilionária.
Difícil mesmo ter um bom Natal, se agora, após essa famigerada Reforma Trabalhista, os escravos dos monstros patronais estão amordaçados para reivindicar seus direitos junto à Justiça do Trabalho. E se perderem alguma ação trabalhista, ainda terão de pagar os custos advocatícios da ala patronal, somando-se a multas com base nos valores reivindicados a receber. Se é justo isso, vivemos quase na Coreia do Norte, em regime de escravidão, robotizados para externar uma “Pátria Feliz”ou “Sim, Senhor!”
Felizmente, a oportunidade do basta! é anular o voto, não apenas deixá-lo em branco. Não votando em quem irá massacrar o trabalhador, algoz impiedoso, é possível minimizar gradualmente esse quartel de corruptos impunes. Os nomes do batalhão de malandros oportunistas estão à vista geral, disseminados como um câncer maligno nos quadrantes do País. Daqui a meses, anotem, vão escancarar suas carrancas e mandíbulas cínicas para o povo necessitado, pedindo votos, é claro…
Por esse ângulo, o Natal pode começar a vir, de fato, não se camuflar num teatro de tudo bem, de fartura inexistente e dias sombrios – realidade que eclode esperanças dos miseráveis que os governos corruptos constroem no dia a dia. “Senão o Natal não vem”,  devemos reconhecer, soa hoje como o sistema de alarme estridente ressuscitado pelo Japão, China e Coreia do Sul, após a série de mísseis lançados pela truculenta Coreia do Norte.

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